Ana Paula Xavier e Isabela Vieira
Repórteres da TV Brasil e Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Ministério Público Federal e a Força de Pacificação do Complexo do Alemão vão apurar uma confusão ocorrida na noite ontem (4), na comunidade Alvorada, nas proximidades da estação de teleférico do Itararé, no Alemão, na zona norte. O incidente terminou com três detidos e pelo menos quatro pessoas feridas por balas de borracha e escoriações.
Segundo os moradores, a confusão na comunidade Alvorada começou depois de uma abordagem a um grupo que fazia um churrasco em um bar, às 18h30. Depois de pedir para que os organizadores baixassem o som, a revista de um deficiente físico revoltou a população, que questionou os militares. Por sua vez, a patrulha deu voz de prisão a duas pessoas, o que agravou a situação.
O chefe do Estado-Maior da Força de Pacificação no Complexo do Alemão, Nilson Maciel, disse que quer concluir a averiguação até o final da semana, mesmo sem ter definido qual será a punição para os militares, caso seja comprovado abuso de autoridade da patrulha. "Vamos esperar acabar esta sindicância não tão formal para ter uma resposta [sobre a punição]", declarou.
O MPF começa a investigação ainda hoje e vai à comunidade conversar com moradores e com a Força de Pacificação. O órgão quer saber se houve excesso. Em um caso semelhante, investigado por procuradores, em julho, na Vila Cruzeiro, próximo ao Alemão, militares também usaram spray de pimenta e balas de borracha contra pessoas que estavam em um bar. Uma delas pode ficar cega.
"A população não gostou da abordagem aos dois civis e se voltou contra a tropa", explicou o coronel Maciel. "Cerca de 200 pessoas se juntaram com pedras, paus e todo material que foram encontrando pela frente, contra a patrulha de dez militares. A tropa, não tinha mais o que fazer, ficou acuada e começou a usar gás lacrimogênio e balas de borracha, progressivamente, para se defender."
A jovem Elaine de Souza, de 17 anos, ferida na boca por uma bala de borracha disse que a prisão de moradores disparou "uma revolta só" . "Fui tentar salvar o meu marido e, quando vi, tinha sido atingida", declarou a dona de casa, que foi socorrida pelos vizinhos durante a confusão.
O coronel Nilson Maciel esclareceu que apesar das reclamações, cabe à Força de Pacificação decidir sobre a realização de eventos públicos na comunidade e fiscalizar a Lei do Silêncio – a partir das 2h da madrugada. "Eles tinham toda a liberdade do mundo e agora colocamos o que é o correto. Então, algumas festas nós tolhemos, damos horário e eles não gostam", justificou.
O tumulto na comunidade, que ainda não tem Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) – responsável pelo patrulhamento comunitário –, foi contido com reforço de militares no local. Cerca de 100 homens do corpo de Fuzileiros Navais socorreram o grupo acuado e já deixaram o complexo.
Edição: Talita Cavalcante