Monica Yanakiew*
Correspondente da EBC
Buenos Aires – O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, advertiu ontem (25) que a ordem na Líbia não será retomada apenas com a saída do presidente Muammar Khadafi do poder. O chanceler ressaltou que os líderes dos países que formam o Brics - Brasil, Rússia, Índia e China e África do Sul – estão preocupados com o futuro da Líbia e defendem que o esforço será para assegurar uma transição pacífica e a união territorial.
“Não basta Khadafi deixar Trípoli para se estabelecer a normalidade”, disse o chanceler. Segundo ele, será necessário que o governo de transição mantenha a “integridade territorial”, acrescentou.
Patriota ressaltou que está descartada a hipótese de o Brasil oferecer asilo ou apoio a Khadafi, que ainda não foi localizado, embora haja a suspeita de que ele continue na Líbia. “[O governo de transição deve] se preocupar em reconstruir a união nacional, em apaziguar a situação interna e em estabelecer um calendário [eleitoral] que, esperamos, obedeça as linhas gerais do mapa do caminho estabelecido pela União Africana”, disse.
De acordo como chanceler, os líderes do Brics consideram o Conselho Nacional de Transição (CNT) líbio um interlocutor válido. Patriota lembrou que o governo brasileiro mantém contatos com os rebeldes de Benghazi e “com outros atores políticos”.
O governo do Brasil ainda não reconhece o CNT como o representante único legítimo do novo governo líbio e da sociedade. No entanto, 15 países da Europa e da África e nações árabes reconhecem o papel do conselho, inclusive os Estados Unidos, a Alemanha e a França.
“O Brasil não reconhece governos, reconhece Estados”, reiterou Patriota. Segundo ele, o Brasil acompanha e dialoga com a comunidade internacional e aguarda a decisão do Comitê de Credenciais da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), que decidirá quem comandará o processo de transição na Líbia.
Patriota advertiu ainda que é necessário ter cautela nas discussões para evitar os erros cometidos no processo de redemocratização do Iraque, depois da derrubada da ditadura de Saddam Hussein. O assunto é tema de discussões na Organização das Nações Unidas.
“Por mais frágeis que sejam as instituições, se for desmantelada a burocracia existente, a Líbia estará correndo o risco de aumentar e a imprevisibilidade e a insegurança, em uma fase que é muito delicada. Até porque existem muitas armas de destruição em massa no país e muitas armas químicas”, disse o chanceler.
Patriota esteve em Buenos Aires para participar da reunião de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que concordam que cabe ao Conselho de Segurança da ONU a tarefa de garantir a paz e a segurança na Líbia – e não a um grupo de países, como os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
*Colaborou Renata Giraldi, de Brasília.//Edição: Graça Adjuto