Brasília - O secretário-geral da Associação dos Juízes Federais Brasileiros (Ajufe), José Carlos Machado, defendeu hoje (13) maior organização do Estado para proteger os magistrados. A Ajufe tem criticado a falta de segurança para o trabalho dos juízes.
Ontem (12), a juíza Patricia Lourival Acioli, da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo (RJ), foi assassinada a tiros, ao chegar em casa em Niterói, na região metropolitana do Rio. José Carlos Machado participou hoje do programa Revista Brasil, da Rádio Nacional.
"É necessária uma reação, um planejamento nesse sentido. O Estado brasileiro precisa se organizar, assim como a criminalidade tem se organizado”, disse. Segundo ele, a proposta pode partir do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio de medidas que estabeleçam maior segurança e independência do Poder judiciário e do juiz.
Machado acredita que, além do CNJ, o Congresso Nacional pode ser responsável pela iniciativa de criar mecanismos de proteção aos magistrados, ou mesmo o Executivo, com projetos de lei, por exemplo. Segundo ele, qualquer iniciativa depende de lei, orçamento e vontade política. “Apenas para exemplificar: carro blindado para magistrados ameaçados depende de previsão legal. Porte de arma para juízes que esteja ameaçados depende também de atuação do governo”.
Até mesmo uma greve de juízes é uma das alternativas propostas por Machado para pressionar e resgatar a independência e valorização da categoria. Segundo ele, a greve é uma medida extrema, mas que foi adotada com sucesso, por exemplo, em Portugal, na Espanha e na Itália na busca de valorização do Poder Judiciário e na própria sobrevivência do Estado.
“Isso porque o juiz independente, julgando com liberdade organizações criminosas e com celeridade casos do dia a dia do cidadão, é essencial para a manutenção da democracia”.
De acordo com Machado, é importante o reconhecimento de que o juiz é agente de poder e não deve ser simplesmente considerado um agente administrativo do Estado. Muitas vezes, acrescentou, ele decide contra o próprio Estado, por isso é necessário um sistema mínimo de proteção que dê independência.
O secretário lembrou que essa independência é necessária à democracia e à preservação da República, mas advertiu que ela nem sempre interessa a grupos econômicos, que tentam algumas vezes burlar as leis. Para ele, há ainda pressões de grupos políticos, que tentam em determinado momento avançar no controle do poder.
“Há grupos econômicos e interesses políticos mesquinhos. Não estou falando dos legítimos, não estou falando dos projetos legais e constitucionais, mas dos mesquinhos que têm atentado contra a independência do Judiciário”.
“O Estado brasileiro, que está em pleno desenvolvimento econômico, hoje tem recursos e pode criar mecanismos de melhor proteção ao Judiciário”, disse.
José Carlos Machado acredita que o caso não cairá no esquecimento e defende que a sociedade, de forma geral, permaneça trabalhando e cobrando mudanças.
“O Brasil está mudando e muitos assuntos não caem mais no esquecimento. Para isso, é necessária a colaboração de todos, incluindo a estrutura legal. Vamos fazer com que essa realidade seja alterada”.
Edição: Graça Adjuto