Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As tempestades severas como as ocorridas no início do ano na região serrana do Rio serão cada vez mais comuns e violentas no Brasil, segundo um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em parceria com a entidade norte-americana Massachussets Institute of Technology (MIT). Para evitar que as tempestades se tornem catástrofes climáticas, o país está desenvolvendo novas tecnologias, dentre elas, a segunda maior rede do mundo de monitoramento de raios e a maior da região tropical do planeta. A maior dessas redes, atualmente, é a dos Estados Unidos.
O anúncio foi feito hoje (8) durante a 14ª Conferência Internacional de Eletricidade Atmosférica no Rio de Janeiro, considerado o maior evento mundial sobre o tema.
De acordo com engenheiro Osmar Pinto Júnior, coordenador do evento e do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Inpe, a rede BrasilDAT, desenvolvida pelo Inpe e pela Eletrobras Furnas, cobrirá, com 75 novos sensores e 33 já existentes, todo o território nacional e irá identificar descargas elétricas no solo e nas nuvens, associadas às tempestades.
“Quem retrata a severidade de uma tempestade capaz de causar um desastre são as descargas dentro das nuvens. Se a rede já estivesse funcionando na época das tempestades na Serra, a tragédia teria sido evitada, pois ela seria capaz de detectar com confiabilidade a tempestade com cerca de 20 a 30 minutos de antecedência”, explicou o coordenador do Elat.
A Região Sudeste já está coberta pela rede e a previsão é que as regiões Sul, Centro-Oeste e Nordeste estejam cobertas até julho de 2012. A rede deve custar cerca de R$ 10 milhões aos cofres públicos.
O Brasil é recordista em número de raios que atingem o solo em todo o planeta, com cerca de 50 milhões de descargas elétricas por ano, responsáveis pela morte de uma média de 130 pessoas, além de prejuízo de R$ 1 bilhão aos setores público e privado. A cada 50 pessoas que morrem no mundo por causa de raios, uma reside no Brasil.
Osmar ressaltou, no entanto, que é fundamental uma interligação entre a Defesa Civil, as prefeituras e o setor elétrico na prevenção de tragédias e a criação de uma legislação voltada para a proteção das redes elétricas de distribuição contra desastres naturais.
“Não há nada de apocalíptico no aumento de raios. Podemos ter o triplo de raios e um número menor de mortes e de prejuízos se melhorarmos os sistemas de proteção e a conscientização da população. Nosso sistema político deve ser modificado para criar leis de longo prazo”, declarou o engenheiro.
Ele criticou o fato de as empresas de energia serem penalizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em casos que envolvem desastres naturais quando, na verdade, não existe uma legislação que dê suporte para as redes de distribuição nas cidades. “Deve haver a compreensão de que, em uma catástrofe, a empresa não pode ser culpada, ela precisa de uma legislação que dê suporte para enfrentar um problema como esse.”
Edição: Lílian Beraldo