Da Agência Brasil
Brasília – Várias obras em execução no campus da Universidade de Brasília (UnB) não oferecem condições de segurança aos trabalhadores. A denúncia foi feita hoje (21) pelo primeiro-secretário do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, João Barbosa, enquanto acompanhava o resgate dos três operários que morreram soterrados em um deslizamento de terra em uma obra de ampliação do Hospital Universitário de Brasília (HUB). No final da tarde, o Corpo de Bombeiros concluiu o trabalho de localização dos corpos.
“Os empresários [da construção civil] acham mais barato enterrar um operário do que investir em segurança", afirmou Barbosa, acrescentando que em maio último o sindicato denunciou ao Ministério do Trabalho a falta de segurança nas obras em andamento no campus da UnB. Mesmo assim, assinalou o sindicalista, elas continuaram sendo executadas.
Desde o início do ano, 12 operários – contabilizando as três vítimas de hoje – morreram em acidentes do trabalho no Distrito Federal (DF), informou Barbosa. "Choques elétricos, quedas e soterramentos são as principais causas dos acidentes."
Segundo a UnB, denúncia alguma foi entregue aos responsáveis pela contratação da empresa Anhaguera, de Goiânia, que executa a obra no HUB. O fiscal de segurança da UnB Josafá Silva disse que ontem (20) determinou que a obra fosse interrompida por motivos de segurança. No entanto, completou, a ordem foi descumprida hoje pela manhã pelo mestre de obras identificado apenas como Raimundo.
"Fizemos um relatório descrevendo todas as irregularidades, como, por exemplo, o perigo de queda [de operários] do andar térreo para o subsolo por falta de sinalização, além da falta de estrutura na escavação da rede de esgoto”, lembrou Josafá. Os responsáveis pela construtora não foram encontrados no local do acidente pela Agência Brasil.
RESGATE - Por volta das 17h, os bombeiros terminaram o resgate dos corpos dos três operários. O primeiro a ser resgatado foi o servente Nelson Holanda da Silva, 34 anos. Os corpos do carpinteiro Raimundo José da Silva e do pedreiro Lourival Leite de Morais foram encontrados em um buraco de aproximadamente 6 metros de profundidade.
"O que resta agora para a família é somente a sensação de perda”, lamentou Antônio Aldeirton, cunhado do servente Nelson. “Ele já havia reclamado da falta de segurança na obra, mas mesmo assim trabalhou seis meses nela."
A irmã de Nelson, Zilma Holanda de Sousa, confirmou que ele se queixava do perigo no trabalho. "Uma vez o Nelson falou que teve que trabalhar mesmo não querendo. Ele ainda chegou a dizer que não queria trabalhar na escavação do buraco.” O servente tinha uma filha de 14 anos.
Edição: João Carlos Rodrigues