Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – Indicadores como a desaceleração da indústria e a queda do consumo das famílias confirmam a trajetória de desaquecimento da economia almejada pelo governo e a tendência de manutenção da inflação entre 5% e 6% no final do ano. A conclusão está na Carta de Conjuntura, apresentada hoje (20) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O documento destaca que, mesmo a expansão, “ainda que significativa”, do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano, que chegou a 6,2%, é menor do que a taxa registrada no mesmo período do ano passado (7,5%).
Segundo o Ipea, as medidas macroprudenciais adotadas pela equipe econômica são as grandes impulsionadoras deste cenário. Todos os indicadores recentes são positivos porque estão proporcionando a desaceleração da atividade econômica, disse Roberto Messenberg, coordenador do Grupo de Análises e Previsões do Ipea. "Uma desaceleração que é bem-vinda, porque indica uma acomodação de variáveis ao longo do tempo, e que torna a taxa de crescimento da economia sustentável no todo, com menor probabilidade de rupturas”, avaliou.
No caso da indústria, o documento do Ipea mostra que a valorização do câmbio e as piores condições de financiamento, como reflexos dos ajustes da taxa de juros, são as causas de um desempenho mais modesto. “O Banco Central ampliou seu leque de medidas de maneira muito corajosa, e [isso] funcionou de fato, apesar do ceticismo do mercado”, disse Messenberg.
Pelo lado da demanda, porém, o reflexo das medidas de desaquecimento ainda é suave, destacou o economista O consumo das famílias registrou crescimento de 6,4% na taxa acumulada em quatro trimestres. A taxa de 2010 ficou em 7%. E o comércio, mesmo diante das medidas de restrição ao crédito, continuou com ritmo acelerado nos últimos meses.
Segundo a carta do Ipea, a principal explicação para essa resistência do consumo em níveis ainda altos está no mercado de trabalho. A taxa de desocupação no primeiro semestre do ano ficou em 6,3%. No ano passado, a taxa passou de 7%. O ambiente favorável no setor reflete-se tanto no contingente de ocupados quanto na expansão dos rendimentos. E os ganhos reais acima da produtividade do país pressionam os preços ao consumidor.
Mas, para Roberto Messenberg, o mercado de trabalho tende a se acomodar, e a combinação dos fatores que compõem a massa salarial real deve seguir neste rumo. “A massa salarial está crescendo, mas a taxas decrescentes. Está de acordo com a idéia geral de que a economia começa uma trajetória suave, que é mais favorável à sustentabilidade do próprio crescimento a taxas mais elevadas ao longo do tempo”, disse ele.
As políticas de recuperação salarial e a menor produtividade da indústria vem pressionando os preços domésticos, principalmente do setor de serviços. Apesar do novo vilão inflacionário ainda apresentar crescimento, os economistas do Ipea acreditam que a tendência é o preço dos serviços seguir o mesmo caminho trilhado pelos setores de alimentos e de combustíveis, que foram apontados como a origem da aceleração da inflação registrada no segundo semestre do ano passado. Tais setores agora registram queda e são considerados a origem do processo inverso, de deflação.
“De fato, houve um certo susto com a inflação desses itens, que vieram salgados no começo do ano, mas agora estão contribuindo de maneira positiva", ressaltou o economista. Ele lembrou que o Banco Central sempre apontou a possibilidade de refluxo, de desaceleração, o que ocorre agora de maneira forte.
Edição: Nádia Franco