Monica Yanakiew
Correspondente da EBC
Buenos Aires – Depois de dois meses de investigação, foi divulgado hoje (19) um relatório de 500 páginas que conclui que o ex-presidente chileno Salvador Allende cometeu suicídio, durante o golpe militar de 11 de setembro de 1973.
A filha do ex-presidente e senadora do Partido Socialista, Isabel Allende, disse que sentia “uma grande tranquilidade” ao confirmar o que já sabia: que seu pai “tomou a decisão de acabar com sua vida, antes de ser humilhado ou viver qualquer outra situação”.
Em maio passado, o corpo de Allende foi exumado. A suspeita era de que ele tinha sido assassinado no dia do golpe, quando aviões bombardearam o palácio presidencial La Moneda.
Um dos primeiros a levantar suspeitas sobre o suicídio de Allende foi o poeta chileno e Prêmio Nobel, Pablo Neruda, que morreu 12 dias depois de Allende, de uma parada cardíaca, provocada por um câncer de próstata. Em suas memórias, o poeta escreveu que Allende provavelmente tinha sido metralhado pelas tropas que tomaram de assalto o palácio presidencial e que o suicídio tinha sido inventado para encobrir um assassinato.
A morte de Neruda, como a de Allende, começou a ser investigada este ano. Seu assistente pessoal, Miguel Araya, disse que o escritor tinha recebido uma injeção letal no hospital onde morreu de uma parada cardíaca. Mas a Fundação Pablo Neruda não acredita na versão de Araya.
A família de Allende tampouco acreditava que o ex-presidente tivesse sido assassinado. Seu corpo foi encontrado em La Moneda e, na época, a informação oficial foi que o ex-presidente cometeu suicídio com uma arma que recebeu de presente de seu amigo, o líder cubano Fidel Castro. O médico de Allende confirmou essa informação, mas como nunca houve uma investigação formal, os rumores não pararam.
O caso de Allende é um dos 726 crimes contra os direitos humanos cometidos durante a ditadura que a Justiça chilena esta investigando. Foram 17 anos de ditadura no país. Mas segundo Gabriela Zuniga, da Agrupação de Familiares de Detidos e Desaparecidos, falta ainda muito por fazer.
“Temos informações gerais, mas não temos informação individual sobre as vítimas. Sabemos que houve 1.190 detidos e desaparecidos e 2,5 mil executados durante a ditadura. E agora sabemos que Allende se suicidou, mas não sabemos os nomes dos pilotos que bombardearam o Palácio La Moneda, nem os nomes daqueles que torturaram e mataram durante a ditadura”, disse Zuniga, em entrevista a Agência Brasil.
“Para que um país cure suas feridas é preciso saber o que aconteceu e que isso foi feito por chilenos contra chilenos. Se sabemos a verdade e nos horrorizamos com ela, aí sim podemos construir um futuro melhor”.
No próximo mês, disse Zuniga, serão divulgados os resultados de uma investigação para saber se o número de mortos e desaparecidos foi maior do que se sabe. No Chile, o Estado paga o equivalente a US$ 800 mensais a mães ou as esposas das vítimas da ditadura.
Edição: Rivadavia Severo