Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - Após propor a criação do vale cultura de R$ 50 como forma de ampliar o consumo de bens artísticos e culturais entre os cerca de 12 milhões de assalariados que devem ser beneficiados pela iniciativa, o Ministério da Cultura agora planeja investir em projetos que permitam aos trabalhadores urbanos e rurais ter acesso à cultura em seu próprio local de serviço.
Hoje (21), representantes do ministério se reuniram com as principais entidades ligadas aos trabalho para discutir a elaboração de um programa que, inicialmente, visa a reforçar a instalação de bibliotecas e a criação de cineclubes em fábricas, sindicatos, associações e outros espaços de aglutinação de mão de obra formal e informal no campo e nas cidades.
A ideia é que os trabalhadores aproveitem o tempo livre para ler um livro ou assistir a um filme, que também poderão ser levados para casa, beneficiando assim as suas famílias.
“Nosso objetivo é, em parceria com sindicatos e associações de classe, atender aos trabalhadores, disponibilizando material audiovisual e multimídia para que eles possam, no seu próprio espaço laboral, usufruir da produção cultural”, afirmou a assessora especial do ministério, Morgana Eneile. “Apesar de todos os nossos projetos anteriores, faltava-nos beneficiar este público que, muitas vezes, passa entre dez ou 12 horas ligado ao ambiente de trabalho, sem tempo de usufruir da cultura”.
Segundo Morgana, a proposta ministerial apresentada às organizações sociais tem por base a experiência acumulada com os projetos pontos de leitura e o Cine Mais Cultura. O primeiro visa a estimular à leitura por meio da criação ou ampliação do acervo de bibliotecas que funcionam em pontos de cultura, hospitais, sindicatos, presídios, associações comunitárias, entre outros. Já o Cine Mais Cultura distribui às entidades selecionadas equipamentos de projeção digital (tela, projetor, mesa e caixas de som), aparelho de DVD e uma série de filmes e documentários brasileiros.
O ministério, contudo, espera receber sugestões dos movimentos sociais antes de redigir a proposta final que será discutida com outras instâncias do governo federal. De acordo com Morgana, os valores, a composição dos kits que serão distribuídos e os critérios para seleção das entidades beneficiadas ainda vão ser detalhados. A intenção é que o edital seja publicado no máximo até agosto para que o projeto, ainda considerado piloto, possa ser lançado este ano. Uma nova reunião deverá ocorrer no próximo dia 27.
Para a secretária de jovens rurais da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Maria Elenice Anastacio, a iniciativa do ministério é “brilhante”, já que estimular a leitura e o consumo cultural entre os trabalhadores é algo importante. “Mas precisamos discutir como operacionalizar esse modelo no campo, já que reproduzir na área rural os projetos bem-sucedidos que nos foram apresentados será algo muito difícil. Uma coisa é ter uma área de leitura em uma fábrica, onde há horário de almoço definido. Outra é ter [um local de leitura] no meio de um canavial.”, destacou Maria Elenice.
Segundo o operador de máquinas Valderez Dias Amorim, do Comitê Sindical de Empresas do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista, a proximidade e a facilidade de apanhar livros emprestados contribuiu para modificar hábitos e o ambiente da fábrica em que ele trabalha há 14 anos, em Diadema (SP), onde também é agente de leitura.
“Eu sabia que seria difícil tentar incentivar pessoas que nunca tiveram o hábito de ler, mas, hoje, já há uma grande parcela de funcionários que leem com frequência. E uma outra parcela aos poucos está tomando gosto pela leitura. Se essa facilidade for levada para todo o país, acho que isso vai ser a grande transformação a partir da cultura.”
Participaram da reunião, além da Contag, a Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), entre outras.
Edição: João Carlos Rodrigues