Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O trabalhador rural Obede Loyla Souza, de 31 anos, morto no último dia 9, não era extrativista nem líder ambientalista no Pará. Além disso, seu nome não consta na lista de pessoas ameaçadas divulgada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Esses fatores, de acordo com o Ministério da Justiça, amenizam as suspeitas de que sua morte seria mais um caso de violência contra líderes rurais da Região Norte. Em menos de um mês, a região contabiliza quatro mortes de lideranças.
“Assim como toda a população local, Obede e a esposa tinham seu roçado. Mas não era extrativista nem liderança. Muito menos ativista ambiental”, disse o agente da equipe da CPT de Tucuruí e integrante da coordenação da CPT no Pará Hilário Lopes Costa. “O nome de Obede não consta na lista que a CPT divulga, com os nomes de pessoas ameaçadas de morte por madeireiros”, afirmou.
“Trabalhando com todas as hipóteses”, a Polícia Civil do estado levantou a ficha do trabalhador e constatou que ele tinha antecedente criminal por atentado ao pudor. Isso será levado em consideração ao longo das investigações, mas, em princípio, não tem relação com o assassinato, e ficará limitado apenas às informações vinculadas ao perfil da vítima.
De acordo com o coordenador da CPT, a esposa do trabalhador, Éllen Cristina de Oliveira Silva, 29, omitiu algumas informações durante o depoimento que fez à Polícia Civil de Tucuruí. "Ela disse que Obede havia discutido com um vizinho do Acampamento Esperança por causa da demarcação do lote. Mas, por causa do nervosismo, acabou esquecendo de falar que os dois já tinham chegado a um acordo”, informou Hilário.
Ela não informou também, segundo o agente da CPT, sobre uma discussão que o marido teve com caminhoneiros que transportavam madeira ilegal na estrada que dá acesso ao acampamento.
“Não se tratou de uma discussão relacionada à madeira ilegal que estava sendo transportada, mas aos danos que esses caminhões estavam causando à estrada de chão batido. Por transportarem até 20 toras de árvore de uma vez só, esses caminhões ficam muito pesados e acabam tornando a estrada intransitável. Como sempre chove na região, o estrago fica ainda maior”, disse Hilário.
“Ela acabou não falando isso durante o depoimento na delegacia por medo do grupo de madereiros de Tucuruí, que são muito poderosos e têm a conivência da Polícia Militar local”, justificou o integrante do CPT no Pará.
O Ministério da Justiça confirmou que o trabalhador assassinado não era líder extrativista e informou que a Força Nacional não está no local porque a solicitação do governo do Pará está restrita a apenas três municípios: Santarém, Marabá e Altamira.
Edição: Lílian Beraldo