Carolina Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Diante do aumento do número de reclamações de pacientes insatisfeitos com cirurgias plásticas, o Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu lançar uma ficha em que o médico irá documentar todas as informações e esclarecimentos repassados ao paciente sobre a cirurgia, desde a consulta até a alta do hospital ou clínica.
O modelo do formulário foi definido em conjunto com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Tudo ficará registrado no documento, assinado pelas partes, em duas vias – sendo que uma ficará com o paciente e a outra com o médico.
Em um primeiro momento, o CFM vai apenas recomendar a adoção do formulário, disponível na página do conselho na internet. Para se tornar obrigatório, é preciso a aprovação de uma norma pelo órgão. No entanto, o coordenador Antônio Pinheiro estimula o paciente a exigir o preenchimento da ficha e verificar o registro do médico no conselho de medicina da região para evitar a atuação de “aventureiros”, profissionais que fazem esse tipo de cirurgia sem ter habilitação.
O Brasil é o segundo país no ranking mundial de cirurgias plásticas, perdendo apenas para os Estados Unidos. Estima-se que foram feitas 640 mil operações desse tipo no país, em 2009 – mais de 80% em mulheres. O implante de silicone lidera as cirurgias plásticas, seguido da lipoaspiração. Atualmente, existem quase 5 mil cirurgiões plásticos, mais de 90% deles trabalham no estado de São Paulo.
Pelo protocolo definido pelo CFM para o preenchimento do formulário, o médico fará uma checagem com o paciente de todas as etapas. Na primeira fase, da consulta e avaliação, devem constar os dados do paciente (peso, altura, idade, sexo, uso de remédios, fumante, alergias ou distúrbios psiquiátricos), exames pré-operatórios, esclarecimentos da anestesia, técnica a ser usada e quais os riscos da cirurgia, como o de deixar cicatrizes, além da habilitação do hospital ou clínica para o procedimento.
Na fase pré-cirúrgica, o profissional deve informar sobre a dieta alimentar e roupas adequadas para serem usadas depois do procedimento ( tais como meia específica, cinta, sutiã) e também a respeito de lesões já apresentadas pelo paciente como, por exemplo, uma paralisia facial. É nessa fase que o médico tem que verificar o leito escolhido para a cirurgia.
Após a operação, o cirurgião deve registrar o tempo de duração, uso ou não de dreno ou sonda, curativos adotados e ocorrência de problemas no decorrer da operação, como uma embolia. Por último, as informações da alta hospitalar, datas das consultas de retorno e contatos do médico.
De 2001 a 2010, o CFM julgou 453 processos relacionados à especialidade e nove profissionais tiveram o registro cassado. Em algumas queixas, os pacientes reclamaram que não sabiam que ficariam com cicatriz e que tiveram dificuldade de encontrar o médico depois da cirurgia. Com o novo documento, o CFM quer diminuir as falhas na comunicação entre médicos e pacientes.
“O mais importante é compactuar paciente com o médico. Eu [médico] expliquei, ela [paciente] entendeu. Eu respondi a todos os argumentos e às necessidades de esclarecimentos. Ela também se sentiu tranquila, [tanto] que assinamos juntos [o formulário], em comum acordo”, disse Wanda Elizabeth Correa, coordenadora da Comissão do Silicone da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, entidade que participou da discussão do protocolo, que durou dois anos.
No entanto, os especialistas alertam que a prática não elimina todos os riscos que envolvem uma cirurgia. “Com o organismo humano, seria impossível dizer que nada vai acontecer”, afirmou Antônio Pinheiro, coordenador da Câmara Técnica de Cirurgia Plástica do CFM , acrescentando que, dependendo das informações colhidas, o médico pode decidir não fazer a cirurgia pelo fato de o paciente apresentar riscos de saúde.
Mesmo com o formulário, Wanda Correa é pessimista quanto a uma possível redução das reclamações porque muitos pacientes, segundo ela, depositam na cirurgia plástica a expectativa de ter o rosto e o corpo perfeitos. Ela acredita que os profissionais terão de ser mais realistas. “Querem mágica [pacientes]. Na verdade, estamos limitados pela técnica cirúrgica e pelas condições que a paciente apresenta, tipo de pele e deformidade. Mas não há mais possibilidade de o médico dizer: você vai ficar linda e maravilhosa. Agora tem explicação e limites”, alegou.
Edição: Lana Cristina