Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A morte do líder e fundador da rede Al Qaeda, Osama Bin Laden, pode transformá-lo em mito, gerar uma disputa pelo comando da liderança deixada por ele e, sobretudo, acirrar o impasse envolvendo o combate ao terrorismo no mundo, afirmam especialistas. Para eles, há espaço também para o Brasil se posicionar neste debate internacional em defesa do antiterrorismo e da busca por acordos pacíficos e sem uso de ações que contrariem os direitos humanos, como a tortura.
A análise é de especialistas em relações internacionais ouvidos hoje (6) pelo programa Revista Brasil, da Rádio Nacional. Participaram do programa os professores Nilton César Flores, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Carlos Eduardo Vidigal, da Universidade de Brasília (UnB), além do especialista em relações internacionais, José Luiz Niemeyer.
Bin Laden foi morto no último domingo (1º) por militares das forças especiais norte-americanas, em uma mansão onde vivia com a família, a 100 quilômetros de Islamabad, capital do Paquistão. O corpo do líder foi lançado ao mar, mas as autoridades dos Estados Unidos asseguram que exames de DNA confirmam a identidade do fundador da Al Qaeda. Desde então há manifestações favoráveis e contrárias à operação conduzida pelo presidente norte-americano, Barack Obama.
Niemeyer destacou que o momento é de os países se posicionarem sobre o combate ao terrorismo. No caso do Brasil, é a oportunidade de se integrar no debate internacional. “O Brasil tem que observar essa situação e buscar brechas para defender sua agenda, que é, talvez, diferente da agenda norte-americana ou internacional”, disse.
Na política externa, o governo brasileiro costuma reiterar sua defesa pela consolidação dos direitos humanos e dos instrumentos democráticos. Para Niemeyer, a inserção do Brasil no debate sobre o terrorismo pode gerar avanços nos campos “comerciais, técnicos e econômicos”. “Talvez uma diferença [neste momento] seja que o governo Dilma tenha uma agenda um pouco menos ideológica, mas isso também não se pode concluir, está muito no inicio do governo.”
Para o professor da UnB, a tendência atual é a de construir um mito em torno de Bin Laden. “É difícil imaginarmos se o resultado seria negativo ou positivo, mas é provável que nós tenhamos a construção de um mito em torno de Bin Laden que terá ecos para as próximas décadas”, afirmou Vidigal.
O professor da UFF alertou que associada à imagem de mito de Bin Laden é necessário discutir a operação que levou à morte dele, envolvendo tortura e execução de um homem que estava desarmado.
“Eu poderia dizer também sobre como foram obtidas as provas para identificar o Osama, foram provas obtidas mediante tortura, é outro aspecto que gera polêmica, e a forma de execução. São muitas questões jurídicas sobre esse caso. Mas uma coisa é discutir isso em sala de aula, e a outra coisa é ser um fato real”, afirmou Flores.
Segundo ele, é importante que a comunidade internacional compreenda e trate o terrorismo como um “problema mundial”. “No final todos querem combater o terrorismo”, disse. “A força do Estado acaba prevalecendo para tentar legitimar essas ações.”
Niemeyer acrescentou ainda que um dos primeiros efeitos da morte de Bin Laden já observados foi no cenário da política interna dos Estados Unidos. O especialista lembrou que o momento no país é delicado por causa da crise econômica e do agravamento do desemprego.
“A morte de Osama traz uma esperança ao povo norte-americano, mas a médio e longo prazo vai esquecer dentro das contradições internas que existem dentro dos Estados Unidos, principalmente nas ações de geração de emprego e renda, além da crise econômica”, disse. “A recuperação da economia norte-americana não está ocorrendo, a geração de emprego em alguns lugares está muito lenta, então não acho que seja um elemento que garanta a reeleição de Obama.”
O professor da UFF ressaltou que ainda há um longo processo a percorrer até o dia da eleição presidencial norte-americana, em novembro de 2012. “Não tem como avaliar agora dizer que esse fato vai perdurar até o dia da eleição porque eleição só se ganha no dia que sai o resultado. Agora, o fato de a comunidade internacional condenar o ato tem de ser visto sob outro ponto, porque o nosso pensamento não é o pensamento dos norte-americanos.”
Edição: Lílian Beraldo