Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Em 2009, quando o gás natural começava a se destacar como importante insumo na matriz energética, o Brasil chegou a queimar mais de 13 milhões de metros cúbicos diários – volume suficiente para gerar cerca de 3 mil megawatts de energia térmica e abastecer uma cidade de aproximadamente 12 milhões de habitantes.
Em junho daquele ano, o país atingiria um recorde negativo: 13,3 milhões de metros cúbicos de gás natural queimados diariamente. “Foi o pico de queima a que chegamos, com um índice de utilização de apenas 77% - ou seja, uma queima de quase 23% do gás produzido. A partir daí, concluímos que não era mais possível manter esse patamar”, disse à Agência Brasil o superintendente adjunto de Produção da ANP, André Barbosa.
“Foi uma coisa gritante e que nos levou ao Programa de Redução de Queima de Gás Natural. Entendemos que os níveis da queima de gás no Brasil estavam muito elevados, em função principalmente de novas unidades de produção que entravam em operação”.
Barbosa explicou que uma plataforma quando é nova e começa a produzir necessita de um tempo, chamado pela ANP de “período de comissionamento da planta”. Em geral, são 90 dias. “É quando os equipamentos estão sendo reajustados e adequados para a produção, inclusive do gás. Nesse tempo ele [o concessionário] acaba queimando o gás sem qualquer aproveitamento”.
O superintendente garantiu que a ANP vem insistindo com os operadores para que reduzam esse tempo para algo em torno de 30 a 60 dias. Segundo ele, uma das alternativas para reduzir o desperdício é o reaproveitamento do gás pelos produtores para a geração de energia local.
André Barbosa ressaltou, porém, que a redução gradativa dessa queima, que caiu para 4,8 milhões de metros cúbicos por dia em fevereiro, não decorreu apenas do programa da ANP. “Até porque o programa foi feito basicamente para a Bacia de Campos, no norte fluminense. Explicou que há campos que vêm diminuindo a produção em outras áreas exploratórias. "Alguns poços vêm sendo fechados por insuficiência de volume de produção”, afirmou.
Foi a partir do recorde negativo de junho de 2009 que a ANP passou a adotar a política de exigir dos concessionários que eles empreendessem os postos para que o consumo de gás se desse dentro de padrões razoáveis. De acordo com Barbosa, o termo de compromisso com a redução da queima foi firmado com as empresas devido à necessidade de ajustar os programas e adaptar as plataformas à nova realidade.
“É claro que nós sabemos que a resposta não será tão imediata quanto gostaríamos que fosse. Na verdade, o que também estamos fazendo é intensificar a fiscalização, indo ao campo para acompanhar e comprovar de perto a revisão de compressores – que também reduzem o desperdício. No caso do descumprimento dos planos estabelecidos, aplicamos sanções – uma forma de pressão para que cheguemos à meta almejada”.
O superintendente lembrou que hoje grande parte do gás é utilizada na geração de energia na própria plataforma, “o que por si só já reduz a necessidade de queima. Parte do gás pode ainda ser reinjetada no próprio campo para melhorar a recuperação e a produtividade do reservatório de óleo, enquanto outra parte fica disponível para o escoamento e a comercialização da produção”, explicou.
Edição: Talita Cavalcante e Graça Adjuto