Da BBC Brasil
Brasília - Em meio à alta volatilidade dos preços das commodities e a posições divergentes sobre como abordar o tema, ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20 (que reúne as maiores economias do mundo) reúnem-se a partir de hoje (15) em Washington, nos Estados Unidos. O objetivo é buscar soluções na tentativa de resolver a questão.
O aumento dos preços globais das commodities - que, segundo dados divulgados ontem (14) pelo Banco Mundial, estão 36% mais altos que há um ano - é apontado como fator de risco à recuperação da economia mundial, mas os países divergem sobre as formas de combater o problema.
Para os defensores da regulação do mercado, os grandes exportadores, como o Brasil, são contrários à proposta. Ontem, na véspera da reunião, o assunto foi tema de uma conversa prévia entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a ministra de Economia da França, Christine Lagarde, que têm visões divergentes sobre o tema.
Mantega fará discurso amanhã (16) no Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC, na sigla em inglês), órgão que tem o papel de assessorar o conselho de governadores do FMI. A expectativa é que o ministro recomende a adoção de políticas, lembrando que o aumento dos preços reflete "uma mistura de fatores cíclicos e financeiros" e que as influências de demanda e oferta são "exacerbadas pela liquidez abundante, apreciação do dólar e falta de regulação dos mercados de derivativos e futuros".
Em entrevista ontem ao Wall Street Journal, Mantega atribuiu a alta dos preços à especulação no mercado de derivativos de commodities e disse que iria pedir aos países do G20 que adotem restrições sobre derivativos e fundos hedge em nações ricas como maneira de reduzir pressões inflacionárias.
A França, que atualmente preside o G20, defende a implementação de um sistema que "elimine a especulação" no mercado de commodities e permita intervenção em caso de excessos. "Precisamos de um mecanismo que realmente ajude os produtores a antecipar quedas nos mercados", disse a ministra francesa, antes da conversa com Mantega.
Christine Lagarde negou, porém, que a proposta de seu governo seja a de fixar os preços das commodities. Segundo a ministra, há uma interpretação equivocada sobre a posição francesa. "Essa não é de jeito algum nossa proposta", afirmou.
"Acho que é uma preocupação de todos nós a volatilidade excessiva dos preços, que torna tanto produtores quanto consumidores vulneráveis a altos e baixos", afirmou Lagarde, ao citar o comunicado conjunto divulgado nessa quinta-feira (14) após a reunião dos líderes do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na cidade chinesa de Sanya.
O documento final do encontro na China cita o risco da volatilidade excessiva dos preços das commodities para a recuperação global e faz uma vaga menção de apoio aos esforços internacionais em busca de estabilidade, mas não traz uma posição de consenso entre os países do bloco.
O outro grande tema da reunião em Washington - que ocorre durante a reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial no hemisfério norte - será o do controle de capitais. No discurso de amanhã , Mantega deverá dizer ainda que o Brasil se opõe à imposição de "códigos de conduta" que tentem restringir, "direta ou indiretamente", as políticas adotadas pelos países para responder ao fluxo de capitais.
O ministro deverá afirmar também que o Brasil "está fazendo e vai continuar a fazer o que considerar necessário e adequado às suas circunstâncias para enfrentar os desafios criados por grandes e voláteis fluxos de capital".
"Ironicamente, alguns dos países que são responsáveis pela crise mais profunda desde a Grande Depressão, e que ainda têm de resolver seus próprios problemas, estão ansiosos para prescrever códigos de conduta para o resto do mundo, inclusive para países que estão sobrecarregados com os efeitos colaterais das medidas adotadas por eles", diz o texto do discurso.
No discurso, o ministro deve citar também as preocupações com os riscos associados às políticas adotadas pelos países avançados "para tentar exportar sua saída de situações econômicas difíceis". Mantega diz que o principal gatilho para os problemas econômicos atuais são "políticas monetárias ultraexpansionistas adotadas por alguns países".