Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O traçado do trecho norte do Rodoanel, em São Paulo, tem motivado protesto de moradores da região por onde vai passar a via. Hoje (14), cerca de 200 pessoas fizeram uma caminhada de protesto. Os manifestantes saíram do Museu de Arte de São Paulo (Masp), passaram pela avenidas Paulista e Brigadeiro Luiz Antônio e pararam na Assembleia Legislativa, onde participaram de uma audiência pública.
“Esse trajeto vai passar por 22 quilômetros da região do Cabuçu, onde temos uma diversidade enorme de plantas nativas e animais vertebrados que serão impactados. Lá também moram 75 mil pessoas, divididos em nove bairros, que serão atingidos diretamente [pelas obras]”, afirmou Luiz Carlos Donizete Golia, coordenador de comunicação da organização não governamental (ONG) Projeto Cabuçu de Desenvolvimento Local, de Guarulhos (SP).
Segundo ele, a expectativa é que a obra provoque a desapropriação das moradias de 1,2 mil famílias. Por isso, o movimento pretende cobrar do governo paulista um novo traçado para a obra, que provoque menos problemas para os moradores. “Queremos um novo estudo do impacto ambiental. Queremos uma discussão na sociedade: um plebiscito, se possível, para discutir isso com mais transparência”, disse Golia, à Agência Brasil.
O trecho norte do Rodoanel, último parte da via a ser construída, vai interligar o Aeroporto Internacional de Guarulhos à Rodovia Fernão Dias, na zona norte da capital, numa extensão estimada de 44 quilômetros. O objetivo do governo com a criação do Rodoanel é eliminar o trânsito de passagem pela capital, que acaba contribuindo para os congestionamentos.
Jussara Nunes Carvalho, também integrante da ONG Projeto Cabuçu e moradora da região há 30 anos, lamenta a construção desse trecho do anel rodoviário. “Se [o Rodoanel] seguir esse desenho, esse traçado, minha casa desaparece, assim como outras”, disse.
Outra moradora, Francisca da Conceição Silva, reside há seis anos no Parque de Taipas e reclama da falta de informações sobre a obra. “Estamos precisando de alguma informação concreta para saber o que vai acontecer conosco. A obra do Rodoanel vai ser uma grande revolução para a cidade, mas, até o momento, ela está afetando muito a classe baixa, e a gente precisa de ajuda, de explicação, de informação e saber para onde nós vamos”, afirmou.
“Existem formas de mitigar. O impacto é inevitável. O desmatamento é inevitável dentro desse contexto. Mas precisamos ter bom-senso para melhorar o traçado e perceber o quanto isso afeta a unidade de conservação”, disse Ivini Ferraz, coordenadora da Rede de Cooperação da Cantareira. A Cantareira é considerada a maior floresta urbana nativa do país.
Em resposta à Agência Brasil, a Dersa – Desenvolvimento Rodoviário, empresa vinculada à Secretaria Estadual de Logística e Transportes, informou que o traçado proposto está sendo analisado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e que a aprovação depende de deliberação do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema).
“Enquanto não for emitida a licença ambiental prévia do trecho norte pelo Consema, não há como saber a posição do traçado. Assim, qualquer informação sobre desapropriação/reassentamento ainda é precária, porque o traçado proposto ainda pode sofrer alterações”, diz em nota a Dersa.
Ainda segundo a empresa, o traçado proposto não afeta diretamente nenhuma Unidade de Conservação de proteção integral. “Nos três trechos em que cruza a área do Parque Estadual da Cantareira, em São Paulo, a alternativa de traçado é por meio de túneis”, explicou.
“O traçado escolhido, além de ser o mais curto, é o que causa menos impacto ambiental. Serão suprimidos aproximadamente 98 hectares, o equivalente a 980 mil metros quadrados, de vegetação em estágio pioneiro, médio e avançado, nos 44 quilômetros de extensão do trecho norte. Como compensação, o projeto prevê o plantio de cerca de 500 hectares com mudas de espécies nativas, o que equivale a 5 milhões de metros quadrados, ou seja, cinco vezes o que foi suprimido”, afirmou a Dersa.
A previsão da empresa é que, até o fim de maio, seja concedida a licença ambiental prévia, que vai definir o traçado e possibilitar o lançamento do edital de concorrência da obra. O trecho norte do Rodoanel está orçado em R$ 5,8 bilhões, incluindo a construção das pistas, compensações ambientais, desapropriações e reassentamentos. A estimativa é de que a obra comece em novembro e conclusão prevista para 2014.
Edição: Aécio Amado