Impasse impede que desabrigados possam se mudar para tendas em Teresópolis

12/04/2011 - 11h37

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Depois de três meses do desastre provocado pelas chuvas na região serrana fluminense, pelo menos 236 pessoas ainda vivem em abrigos em Teresópolis. Em uma das unidades, o Renascer, os moradores reclamam das condições de infraestrutura e pedem para que a prefeitura disponibilize as barracas cedidas pela organização não governamental inglesa ShelterBox.

Diante dos furtos constantes, da falta de privacidade, das condições de alimentação e de organização, os moradores do abrigo avaliam que as barracas ajudariam a dar condições melhores de vida às pessoas que perderam suas casas. "Lá, a gente tem a chance de manter a família unida e sair sem se preocupar", avalia a desempregada Cristiane da Silva Correa, de 35 anos.

A desabrigada Simone Xavier, de 32 anos, lembra que mesmo recebendo o aluguel social de R$ 500, muitas famílias não conseguem se mudar. "Primeiro, os aluguéis subiram muito. Segundo, os donos exigem um depósito muito alto. E, terceiro, os proprietários têm medo de alugar para a gente com medo da descontinuidade do pagamento do governo", contou.

Com a esposa em crise de depressão e duas filhas pequenas, o desabrigado Marcelo Pires também acredita que as barracas podem dar mais independências às famílias. "Estamos abandonados aqui. Às vezes temos problemas com fornecimento de água, os chuveiros queimam e a comida vem em condições ruins. Queremos sair, mas não temos para onde", relatou.

A prefeitura e a organização brasileira responsável pelas barracas em Teresópolis, o Rotary Club, divergem sobre a demanda pelas barracas. A avaliação é de que cada vez menos pessoas precisam das tendas, já que muitas recebem o aluguel social ou retornaram para suas casas. No entanto, no próprio Rotary, há avaliação de falta vontade política da prefeitura para instalação das unidades.

"Sem projetos, não temos como manter as tendas aqui", afirmou o sócio-representativo do Rotary Teresópolis, Roberto Estevão, explicando que para montagem do equipamento, a prefeitura precisa ceder um terreno, banheiros e energia elétrica. "Temos 245 tendas estocadas, mas que deverão ser enviadas para Bolívia, que manifestou interesse no equipamento, em cerca de duas semanas".

A presidente da organização não governamental Nossa Teresópolis, Rita Telles, também pede que as barracas fiquem na cidade. Segundo ela, pessoas que estão em abrigos temporários como igrejas e casas de parentes não foram consultadas sobre as tendas. "Enquanto a prefeitura não apresenta uma política habitacional, a solução das barracas é interessante", afirmou.

Cada tenda da ShelterBox tem capacidade para hospedar dez pessoas e dispõe de uma cozinha separada com utensílios como purificador de água, fogareiro, panelas, talheres e pratos. As tendas também foram disponibilizadas nas enchentes de Pernambuco e Alagoas, em 2010.

Segundo a prefeitura de Teresópolis, desde a tragédia, 38 tendas foram instaladas em dois terrenos.

 

Edição: Lílian Beraldo