Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro – O rapper e ativista social MV Bill, fundador da Central Única das Favelas (Cufa), gostaria de ver o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, caminhando pelas ruas da Cidade de Deus e permitindo um contato mais próximo com a população. A visita à comunidade da zona oeste do Rio, uma das primeiras a receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), faz parte da agenda de Obama no próximo domingo (20).
“A Cidade de Deus tem muitas organizações. A Cufa é só uma delas. Temos pessoas que lutam pela transformação da favela, mesmo não fazendo parte de organização nenhuma. Então, eu acho que ia ser bem bacana se, em vez dele conhecer um espaço fechado, pudesse conhecer a comunidade, dar uma caminhada. Assim, ia estar mais em contato com a população, que vai ter muito carinho para passar a ele.”
MV Bill avaliou como estratégica a visita de Obama ao país, pois representará uma oportunidade de reaproximar os dois países, “que andaram meio distantes”, na sua opinião. Nesse contexto, ele considerou a opção pela visita ao Rio ponto favorável a essa aproximação.
“Quando ele escolhe o Rio de Janeiro com uma das poucas cidades que vai visitar, vejo isso de forma grandiosa. Quando põe no roteiro uma comunidade, isso só acrescenta engrandecimento à visita. É uma grande oportunidade para a Cidade de Deus mostrar o que ela tem de melhor e o que deve ser valorizado. Porque, das outras chances que ela teve [no filme Cidade de Deus], acabou mostrando o ódio e a parte negativa em âmbito mundial. Agora, temos uma chance de fazer algo diferente.”
Para o músico, que tem feito diversos programas para televisão entrevistando os mais diversos atores sociais, incluindo jovens representantes do tráfico, a questão racial será um dos expoentes, diferentemente de visitas anteriores de outros presidentes americanos.
“Eu vejo o Obama como uma pessoa muito mais aceita, mais íntegra, mais conectada com a realidade brasileira, até pela sua origem africana. A presença dele é muito emblemática. Mostra não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro, que qualquer pessoa pode chegar a qualquer lugar. Sem falar com a conexão que ele tem com o Brasil. A mãe dele é branca e assistiu ao filme Orfeu do Carnaval. Ela se identificou muito com a cultura afro, teve um fascínio grande por aquela gente que vivia em condições sub-humanas e, ainda assim, tinha alegria carnavalesca”, conta o rapper.
MV Bill também destacou o fato da mãe de Obama ter se casado com um negro queniano. “E, mesmo as pessoas sem saber dessa história, se identificam com ele, porque tem cara de brasileiro, de povo, de gente.”
Edição: Lana Cristina