Da BBC Brasil
Brasília - Alguns brasileiros moradores de Sendai - a cidade mais próxima do epicentro do terremoto que atingiu o Japão no último dia 11 – afirmam que se sentem desamparados após a tragédia. A paulista Andrea Matsubara, de 36 anos, ainda está abalada por causa do desastre e não esconde certo ressentimento com a atuação do governo brasileiro na região.
“Estamos nos sentindo completamente abandonados”, reclamou Andrea, por telefone. Ela contou que uma equipe do Consulado-Geral do Brasil em Tóquio fez uma visita ao apartamento dela hoje (15) e levou alguns alimentos enlatados e água. “Mas foi tudo muito frio e, como está chovendo, eles queriam sair logo daqui, talvez com medo da contaminação nuclear”, disse Andrea. “É o famoso salve-se quem puder”, acrescentou.
Andrea conta que um ônibus fretado pela Embaixada do Brasil no Japão está a caminho de Sendai e de outras áreas bastante atingidas para buscar os brasileiros. “Querem nos levar para outra província. Não queremos ir porque sabemos que daqui a algumas semanas seremos logo esquecidos lá. Nossa vida está aqui e o que queremos é ir embora para o Brasil”, afirmou. “Largar tudo para ficar só uma semana não resolve. Queremos algo mais concreto e estamos brigando com as autoridades para que entendam isso”, disse a paulista.
A brasileira Mirian Kikuti, de 38 anos, espera a ajuda do governo brasileiro. “Estou tão abalada que nem consigo falar direito”, disse ela, com a voz embargada. Casada com japonês, ela mora em Sendai há 20 anos. Assim como Andrea, também quer ser removida para o Brasil com a família.
“Estou muito desapontada com nosso governo. Há outros brasileiros passando frio e fome em cidades vizinhas”, contou Mirian. Ela e Andrea esperam as roupas, os mantimentos e a água que estão sendo enviados pela comunidade brasileira para ajudar a distribuir entre os desalojados.
“Temos de nos mover, porque parece que o governo brasileiro não está nem aí para a gente”, criticou Mirian.
Andrea, que trabalha como intérprete da prefeitura de Sendai, tem muitos contatos de brasileiros e diz que ninguém lá está bem e que querem algo mais concreto.
A assessoria de imprensa do Itamaraty disse que a Embaixada do Brasil em Tóquio montou um esquema de plantão para atender cidadãos afetados pela tragédia. Além disso, consulados itinerantes estariam levando mantimentos para os brasileiros e transferindo os mais afetados para áreas de menor risco.
O Itamaraty também afirma que não há planos de realizar a retirada em massa de brasileiros do Japão, mas lembrou que aqueles que quiserem deixar o país podem fazê-lo com seus próprios meios.