Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A questão da energia nuclear no Brasil está relacionada à necessidade do país de energia para o seu crescimento, afirmou hoje (15) à Agência Brasil o supervisor de Novas Usinas da Eletronuclear, Dráuzio Lima Atalla. “Nós somos subconsumidores de energia elétrica. Nós somos imensamente pobres em energia elétrica”, disse. Com um consumo de energia elétrica per capita, isto é, por habitante, da ordem de 2,4 mil quilowatts-hora (kWh) por ano, o Brasil está distante de países desenvolvidos, como a Alemanha, Suíça e os Estados Unidos, cujo consumo por pessoa alcança até 15 mil kWh por ano.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o limite do consumo de energia por pessoa para um país entrar no rol das nações desenvolvidas é de 5 mil kWh por ano. “Mesmo considerando esse patamar de entrada, nós ainda [o Brasil] consumimos a metade disso”.
Segundo Atalla, a energia elétrica se manifesta em todas as atividades da vida, englobando áreas como a saúde, o transporte, a segurança, educação, entre outras. A eletricidade é um dos insumos mais vitais com que a sociedade moderna conta para obter um índice de desenvolvimento razoável, disse. “Não tem como nosso povo avançar sem que o consumo de eletricidade aumente”.
Engenheiro da Eletronuclear, onde atua há cerca de 33 anos, Dráuzio Atalla informou que não existe fonte de energia elétrica que seja totalmente isenta de problemas. “Como o Brasil necessita dobrar, no mínimo, o consumo, nós precisamos de todas as energias. Existe espaço para todas elas. Só que cada energia tem um aspecto mais positivo ou mais negativo”.
No caso da energia eólica, por exemplo, disse que seriam necessárias 1,5 mil turbinas para gerar a mesma quantidade de energia da Usina Nuclear Angra 2 (1.350 megawatts). “O vento é descontínuo e pouco previsível. Existe espaço para eólica. Mas, nós não vamos ter um país de 200 milhões de habitantes, com a nossa extensão, só em cima de eólica. É um sonho”. O mesmo ocorre em relação à energia solar. Também as fontes hidráulicas têm seus problemas, disse. “Você imagina um abalo sísmico desses [no Japão] perto de uma represa? O que iria acontecer?”
Dráuzio Atalla afirmou que os estudos que vêm sendo feitos pela Eletronuclear para escolha dos sítios onde serão construídas novas usinas nucleares no país levam em consideração novos conhecimentos e tecnologias. “É lógico que os nossos conhecimentos são mais avançados para localizar as usinas nas posições mais adequadas sob a ótica de controle de risco”.
Os processos em curso indicam posições longe de áreas densamente povoadas, mas que tenham trabalhadores, áreas geologicamente favoráveis, com possibilidade de sismo reduzida. Para isso, são seguidos cerca de 40 a 50 critérios, distribuídos em aspectos ambientais, de saúde e segurança, socioeconômico e de custos, que indicam áreas mais favoráveis do que as existentes atualmente, afirmou Atalla, referindo-se ao Japão e ao município fluminense de Angra dos Reis. Ali está situada a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, que abriga as usinas Angra 1 e 2 e o terreno onde está sendo construída Angra 3.
Ele acrescentou que as novas tecnologias utilizadas no setor nuclear incorporam vantagens. Uma delas são os reatores passivos, que não precisam de energia elétrica para se protegerem. “Os sistemas de segurança são passivos. Lançam mão da natureza, quer dizer, gravidade, convecção [a forma de transmissão do calor que ocorre principalmente nos fluidos - líquidos e gases]. Se tivéssemos nessa área [no Japão] um reator passivo, não tinha problema nenhum, porque a refrigeração se faz com as leis da natureza”.
Edição: Aécio Amado