Falta de banco de artérias dificulta transplante em pacientes com arteriosclerose

01/03/2011 - 11h35

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A falta de um banco de artérias e veias no Brasil dificulta o início da realização e transplantes em pacientes com arteriosclerose no país. A cirurgia poderia evitar cerca de 10% das 100 mil amputações por ano ocasionadas por doença isquêmica (falta de circulação sanguínea).

“A arteriosclerose é comum de se encontrar após os 60 anos de idade. O grande problema [para o transplante] é que a gente não tem um banco de artérias e veias, que no Brasil não existe ainda”, afirma o cirurgião José Carlos Baptista Silva, coordenador do primeiro transplante do gênero no país.

A cirurgia, comum nos Estados Unidos, na França e na Alemanha, foi feita por professores da Escola Paulista de Medicina da Universidade de Federal de São Paulo (Unifesp) no dia 25 de janeiro. Foi o primeiro transplante no Brasil de artéria de um doador falecido para salvar um membro sem circulação sanguínea, com risco de apresentar gangrena devido à arteriosclerose.

A Unifesp começou a montar o primeiro banco de artérias e veias do país. "Em breve ele estará pronto", informa o cirurgião. O transplante feito por professores da instituição teve baixo custo e foi realizado no Hospital São Paulo. O paciente tem 56 anos e é portador de arteriosclerose, além de apresentar histórico de doença renal crônica terminal, hipertensão e de já ter sido submetido a um transplante de rim há dois anos. “A gente tenta todas os outros tratamentos antes. O transplante é em último caso”, diz Baptista.

Durante três meses de consultas ambulatoriais, a equipe médica constatou que o tratamento clínico não apresentou melhora, e que havia risco de amputação. A revascularização seria a única alternativa para evitar a perda da perna. Como o paciente não tinha veias disponíveis para o procedimento, a opção foi usar artéria de doador falecido.

O paciente está em recuperação e o risco de rejeição é praticamente nulo. “Ele não apresenta dor, a circulação está normalizada, a cicatrização das feridas do pé começou e já consegue caminhar”, comemora o cirurgião.

Baptista destaca que cerca de 50% dos casos de arteriosclerose poderiam ser evitados com medidas de prevenção. "Controlar a obesidade, o colesterol, os triglicérides, o diabetes, não fumar e evitar o sedentarismo são fatores essenciais para evitar amputações”, alerta o cirurgião.

Edição: Juliana Andrade