Brasil pode perder R$ 3,6 trilhões até 2050 por causa das mudanças climáticas

25/11/2009 - 5h44

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Qualserá o custo das mudanças climáticas para o Brasil? Onze instituiçõesdo país fizeram a conta e calculam um prejuízo que pode chegar aR$ 3,6 trilhões até 2050. De acordo com o estudo Economia da Mudança doClima no Brasil: Custos e Oportunidades, que será lançadohoje (25), as perdas econômicas equivalem a pelo menos um ano inteirode crescimento jogado no lixo se nada for feito para evitar os impactosda mudança do clima em setores como agricultura e energia e em regiõescomo a Amazônia e as zonas costeiras. Inspirado no RelatórioStern, estudo britânico que em 2006 calculou o custo da mudançaclimática em 20% do Produto Interno Bruto (PIB) global, a pesquisabrasileira parte de cenários do Painel Intergovernamental sobreMudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) para calcular o impactodo aquecimento global nas contas do país.No primeirocenário, o Brasil chegaria a um PIB de R$ 15,3 trilhões em 2050, masperderia 0,5% (R$ 719 bilhões) por causas das mudanças do clima. Nosegundo, considerando uma trajetória de crescimento mais limpo, o PIBchegaria a R$ 16 trilhões, mas as perdas seriam de 2,3% (R$ 3,6 trilhões). Coordenadoraoperacional do projeto, a pesquisadora da Coordenação dos Programas dePós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ),Carolina Dubeux, afirma que é preciso deixar claras as consequênciasmacroeconômicas da mudança do clima, que não se restringem aos debatescientíficos e ambientais.“O impacto do clima ainda vai sermodesto em 2050, ainda assim na economia será bastante grande. Há umatendência de redução do PIB em função da mudança climática. E no Brasilisso vai aumentar as disparidades regionais”, cita. Entre ossetores mais vulneráveis aos prejuízos do aquecimento global no paísestão agricultura e energia. Se nada for feito para adaptar a produçãoàs mudanças do clima, todas as culturas – com exceção da cana-de-açúcar– sofrerão redução das áreas com baixo risco de produção. Para aslavouras de café, o percentual é de 18% e para a soja chega a 30%. Aperda anual na agricultura pode passar de R$ 10 bilhões, de acordo com oestudo. O custo da falta de ações para o setor energético também seráalto. Com a redução da vazão dos rios, o sistema elétrico vai perdercapacidade de geração, principalmente nas regiões Nordeste e Norte. “Aperda de energia firme vai ser da ordem de 33% Tem que haverplanejamento para o futuro que considere isso, com complementação poroutras fontes”, calcula a pesquisadora. Nas zonas costeiras, a elevação do nível do mar pode causar prejuízos de até R$ 207,5 bilhões até 2050 com a perda de patrimônio. Paraa Amazônia, o levantamento estima perda de até 38% das espécies, alémde R$ 26 bilhões a menos por ano com a perda de 12% dos serviçosambientais. O cenário considera a redução de 40% da cobertura vegetalda floresta, que, segundo o IPCC, deverão ser convertidos em savana. O estudo, que levou cerca de dois anos para ser concluído, teve acolaboração de instituições como o Instituto de Pequisas Espaciais(Inpe), a Universidade de São Paulo (USP), a Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Fórum Brasileiro deDesenvolvimento Sustentavel e o Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea).