Convocação do Conselho de Ética no recesso divide senadores

23/07/2009 - 13h48

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A proposta aopresidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), de reunir emcaráter emergencial o colegiado para apreciar as denúncias contra opresidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), dividiu osparlamentares.A iniciativa foitomada, hoje, pelos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e PedroSimon (PMDB-RS) diante da divulgação de trecho de escuta telefônicafeita pela Polícia Federal no qual Sarney e o filho Fernandoconversam sobre um emprego, no Senado, para o namorado de uma de suasnetas.A senadora MarisaSerrano (PSDB-MS), integrante do Conselho de Ética, apoia ainiciativa dos colegas. Entretanto, ressalta que este é mais ummovimento político do que um fato prático. A seu ver, o presidentedo colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), apontado como aliado de JoséSarney, dificilmente atenderá ao apelo de Buarque e Simon.“Não acredito que oPaulo Duque vá aceitar. Trata-se de um ato político necessário. Ascoisas vão esquentar em agosto [quando os senadores voltam dorecesso]”, disse a senadora. Ela acrescentou que dificilmente opresidente do conselho “vai aguentar a pressão diante dos fatosnovos que estão surgindo”.Neste caso, MarisaSerrano acrescentou que não restará outra alternativa a Paulo Duquea não ser dar andamento às investigações ou renunciar ao cargode presidente do colegiado. A senadora lembrou que quando foi um dostrês relatores no Conselho de Ética dos processos de investigaçãoda o então presidente da Casa Renan Calheiros (PMDB-AL) o colegiadoera comandado por Leomar Quintanilha (PMDB-TO), considerado um aliadodo peemedebista alagoano.Diante das pressões naépoca, que resultaram na renúncia de três relatores antes daformação da comissão de relatoria que integrou, não coube outraalternativa a Quintanilha senão dar andamento ao processo. Na suaopinião, o mesmo acontecerá no caso de Sarney, se ele insistir empermanecer no cargo. Para não ser cassado e por consequência ficarinelegível por oito anos, Renan Calheiros renunciou ao mandato,voltando no ano seguinte.Os petistas EduardoSuplicy (SP) e Delcídio Amaral (MS), ambos suplentes no colegiado,pensam um pouco diferente da senadora tucana. Contatado por CristovamBuarque, o Suplicy afirmou à Agência Brasil que reforçousua opinião favorável ao afastamento de Sarney da presidência porum mês. “Uma reunião do Conselho de Ética terá sentido quandohouver a disposição do presidente José Sarney de dar explicaçõesao conselho”.Eduardo Suplicy écontrário a qualquer manifestação do colegiado sobre as denúnciascontra o presidente do Senado sem que este, antes, apresente suadefesa aos senadores do conselho.Delcídio Amaralqualificou de “oportunismo político” a iniciativa de querertomar qualquer atitude durante o recesso parlamentar.“A hipocrisia temsido quase uma constante entre nossos colegas”, disse oparlamentar. Ele acrescentou que, se porventura Paulo Duque convocaruma reunião ainda para julho, não haverá quórum para qualquerdeliberação.O petista reconheceu,no entanto, que os senadores “são prisioneiros dos fatos” e, nocaso de as denúncias contra José Sarney continuarem a aumentar, osparlamentares obrigatoriamente terão que tomar uma posição. “Aínão tem jeito”.