Anvisa aprova uso de nova droga para tratamento do câncer de fígado

14/07/2009 - 10h30

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Agência Nacional de VigilânciaSanitária (Anvisa) acaba de aprovar o uso no Brasil do medicamentoNexavar@ (tosilato de sorafenibe - da Bayer Schering Pharma) notratamento do câncer de fígado.O novo medicamento pode prolongar ematé quatro meses a sobrevida de portadores desse tipo de câncer –o que em muitos casos pode significar o tempo necessário para oaparecimento de um órgão compatível ao paciente para a realizaçãodo transplante que lhe poderia salvar a vida.A decisão da Anvisa de aprovar anova medicação se baseou no fato de o tosilatode sorafenibe ter sido testado comresultados satisfatórios, a partir de um estudo clínico mundial commais de 600 pacientes com câncer de fígado avançado e chegou arevelar um aumento de 44% na sobrevida desses pacientes.Quinto tipo de câncer mais frequenteno mundo e o terceiro em letalidade, o câncer de fígado é o queapresenta a complicação mais grave da cirrose hepática. Até hoje,não havia opção de tratamento para os casos mais graves, que nãoa quimioterapia com suas muitas implicações e efeitos colaterais.O medicamento é de uso oral e agediretamente nas células doentes, preservando as sadias. A substânciatambém já foi aprovada em mais de 60 países para o tratamento detumores renais. “Após mais de 30 anos e centenas de estudosclínicos com outras drogas, o tosilato de sorafenibe é o primeirotratamento a demonstrar resultados efetivos contra o câncer defígado, que chega a causar mais de 500 mil mortes por ano”,esclarece o laboratório.No Brasil, estima-se que sejam feitosentre 2 e 3 mil diagnósticos da doença por ano. Segundoespecialistas, até hoje existiam poucas e ineficazes opções detratamento sistêmico para este tipo de câncer, pois nenhuma drogaapresentava benefícios comprovados para o seu controle.“Isso acontece porque cerca de 95%dos pacientes com câncer de fígado tem cirrose hepáticaconcomitantemente e a quimioterapia convencional se tornava muitoagressiva”, afirma a gastroenterologista Luciana Kikuchi, médicaassistente e coordenadora do Ambulatório de Oncologia Hepática doServiço de Gastroenterologia Clínica do Hospital das Clínicas daFaculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).A especialista explica que quando opaciente descobre a doença por causa de sintomas relacionados aotumor, como dor e emagrecimento, geralmente o câncer de fígado jáestá em um estagio avançado.“Por isso recomendamos a todos ospacientes com cirrose hepática que realizem ultrassonografia deabdome pelo menos uma vez ao ano, pois desta forma o diagnósticopode ser feito em uma fase precoce, quando há opções de tratamentocurativo”, completa.Estudos com o tosilato de sorafenibetrazem nova esperança para pacientes e médicos. “É a primeiraterapia que efetivamente demonstrou prolongar a sobrevida dospacientes com carcinoma hepatocelular”, afirma o hepatologistaFábio Marinho, médico do Hospital das Clínicas da UniversidadeFederal de Pernambuco e do Hospital da Beneficência Portuguesa dePernambuco.Ele também ressaltou o fato de queos estudos demonstraram maior tolerabilidade e poucos efeitosadversos, o que contribui para a melhor qualidade de vida do pacientee facilidade de adesão ao tratamento. “A substância foi capaz deimpedir a formação de novos vasos que alimentariam o tumor, alémde inibir a sua proliferação”, informou.Para aprovar o medicamento, a Anvisabaseou-se no Sharp (Sorafenib HCC Assessment Randomized Protocol),estudo clínico que envolveu 602 pacientes com carcinomahepatocelular avançado (sem indicação para tratamento cirúrgicoou químioembolização) de diversos centros de pesquisas mundiais,inclusive no Brasil.Os resultados foram publicados narevista científica New England Journal of Medicine (NEJM) edemonstraram que os pacientes tratados com o medicamento tiveramaumento da taxa de sobrevida global em 44%, quase três meses a maisdo que naqueles que não receberam a substância (média de 10,7meses versus 7,9 meses do grupo placebo).Além do Brasil, diversas agênciasregulatórias internacionais como o FDA(Food and Drug Administration), nosEstados Unidos, e o Emea (European Medicines Agency), na Europa,também aprovaram o uso do remédio.