Para PCdoB, militares têm que ser ouvidos sobre Araguaia

13/07/2009 - 17h42

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A operaçãoformada no Araguaia, sob comando do Ministério da Defesa, podenão ter resultados satisfatórios devido àinconsistência dos dados que servem de base para olevantamento. A opinião é do ex-deputado Aldo Arantes,representante do PCdoB no grupo de trabalho, que acompanha aoperação, que tem por objetivo procurar ossadas edespojos de guerrilheiros desaparecidos. “Há excelentesprofissionais envolvidos na busca. Trata-se de uma equipe altamenteespecializada. No entanto, o levantamento tem sido feito em cima depontos indicados pelo Ministério da Defesa, que se baseou emdocumentos e relatórios de expedições realizadasanteriormente. São dados que considero inconsistentes. Sãodados muito genéricos”, destacouAldo Arantes defendeuque o governo ouça os militares que participaram da fase finalda guerrilha e que poderiam indicar, com mais precisão, oslocais onde foram deixados corpos. “Tenho defendido nas reuniõesque, para que o trabalho tenha resultado, é indispensávelouvir os militares que participaram da fase final da guerrilha doAraguaia. Principalmente os militares que participaram da chamadaOperação Limpeza”, considerou Aldo Arantes, que estáem São Domingos do Araguaia (Pará), acompanhando a fase dereconhecimento dos locais que, em agosto, deverão serexplorados pelo grupo de trabalho.Arantes ainda defendeua participação de integrantes da Comissão deFamiliares de Mortos e Desaparecidos Políticos, no ComitêInterinstitucional criado pelo Ministério da Defesa parasupervisionar o grupo de trabalho. Na semana passada, o ministro daDefesa, Nelson Jobim, considerou que a participação de representantesdas famílias não poderia ser admitida. O ministro disseque tal participação seria ilegal, na medida em que os parentes são parte no processo em que a União foicondenada a realizar as buscas em 120 dias.Para Arantes, a não participação de parentes de guerrilheiros na comissão não tem razãode existir. “Até para que o resultado do trabalho sejarespeitado pela sociedade, ele deve ser acompanhado por segmentosorganizados. A Comissão de Familiares de Mortos eDesaparecidos tem que ser respeitada como entidade. Seria bom queentidades como a OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] e outrossegmentos também participassem, como o PCdoB estáparticipando”, destacou.“Sem a participaçãoda sociedade e sem ouvir o que os militares que atuaram na últimafase da guerrilha têm a dizer, corre-se o risco de cavar e nãoencontrar nada, ou encontrar muito pouco”, criticou.A criaçãoda operação para localizar mortos da Guerrilha doAraguaia, chamada de Operação Tocantins, atende a umadeterminação judicial para que o Estado brasileiro dêrespostas sobre o assunto. A sentença da JustiçaFederal determinou a quebra do sigilo das informaçõesmilitares sobre todas as operações de combate àGuerrilha do Araguaia e que a União informe onde estãosepultados os mortos no episódio.A operaçãoinclui quatro fases e está agora na segunda fase, que inclui olevantamento dos locais onde técnicos irão realizarescavações em busca de ossadas e despojos. Asescavações, de acordo com o cronograma divulgado peloMinistério da Defesa, devem começar em meados deagosto. Na última semana, o grupo de trabalho fez oreconhecimento de áreas próximas a Marabá, nosudeste do Pará. Hoje (13), o grupo seencontra no município de São Domingos do Araguaia,a 52 quilômetros de Marabá. Ainda neste mês, serãorealizados levantamentos em mais dois pontos: em São GeraldoAraguaia e em Xambioá, ambos no Tocantins. A regiãofica entre os rios Araguaia e Tocantins e é tambémdenominada Bico do Papagaio.A Guerrilha do Araguaiafoi um movimento contrário ao regime ditatorial, organizadopelo Partido Comunista do Brasil no início da década de1970. Oficialmente, não há números de quantaspessoas morreram nas ações do Exército com oobjetivo de desmantelar o movimento. O PCdoB estima que existemmais de 60 mortos. Relatos de militares que participaram darepressão, como é o caso do coronel SebastiãoCurió, conhecido como Major Curió, já falam em pouco mais de 40.