Educador social defende tratamento para usuários de drogas em abrigos públicos

08/07/2009 - 18h21

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As políticas de assistência social para pessoas que vivem nas ruasdevem dar prioridade ao tratamento de usuários de drogas. A avaliação é doeducador social Jefferson Ferreira, de 24 anos, que passou boa parte dainfância e da juventude nessa situação, mas conseguiu se recuperarem um abrigo católico que oferecia tratamento para dependência química. Hoje(8), na abertura da 7ª Conferência Municipal de AssistênciaSocial, Ferreira falou sobre a situação de abandono em que viveu durante 12anos, após a morte da mãe. Ex-usuário de drogas, ele apontoudeficiências na recuperação oferecida na rede municipal, como adiscriminação e a falta de perspectivas nos abrigos públicos.“Osistema de abrigos tem que mudar totalmente. É preciso trabalhar firmeo tratamento para dependência e o atendimento psicológico”, destacouFerreira. “O morador de rua está com o psicológico destruído. Hámuitas crianças que eram espancadas pelos pais, outras estupradas, abandonadas, além das que roubam para levar dinheiro para casa. A cabeçadessas pessoas fica 'baratinada' e, ao deparar com as drogas, ficacomplicado.”As declarações de Ferreira fazem parte do objetivode incentivar a participação dos usuários do sistema de assistênciasocial na consolidação e avaliação dessas políticas, um dos objetivosdo conferência municipal, que reunirá até amanhã (9) cerca de 550pessoas, entre usuários, gestores, especialistas, além de organizaçõesnão governamentais (ONGs).De acordo com a presidente do ConselhoMunicipal de Assistência Social, Danielle Reis, a participação dosusuários é fundamental para implementar uma rede de assistência dequalidade. Ela informou sobre um levantamento, realizado em dez regiões do Rio, antes da conferência, que aponta, por exemplo, a falta de informação como um dos problemas. “Queremosque o usuário da política não seja tutelado. Ele deve ser protagonistana construção das medidas que o atenda, junto com os trabalhadores ecom o governo. Os usuários são os beneficiados, eles têm que ter conhecimento sobre seus direitos”, reforçou.O secretário municipal de Assistência Social, Fernando William,também destacou a necessidade de incluir os usuários, e não apenasespecialistas e gestores, nos debates. Ao falar sobre o problema douso de crack (droga ilegal obtida pela mistura de cocaína ebicarbonato de sódio ou amônia) por crianças cada vez mais jovens,no Rio, chamou a sociedade para entrar no debate. “Muitas pessoasquerem sair dessas condições, mas vão para onde, sem emprego, semcasa, sem nada?”.William também culpou a falta deintegração entre os governos, nos últimos anos, pela deficiênciada rede de assistência, na capital fluminense. Ele reconheceu que aárea ainda precisa de recursos, mas ressaltou que a prefeituratrabalha para ampliar os serviços. “Estamos iniciando um governo eas coisas começam a mudar”. A secretária executiva doMinistério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), ArleteSampaio, que participou da abertura, disse que o governo federalpretende oferecer ajuda aos municípios por meio de um projeto decombate ao abuso de crack, articulado com vários setores dogoverno. Segundo ela, o consumo da droga tem provocado inúmerasvítimas em diversas cidades do país.“Estamos aindadefinindo as cidades que vão ser pilotos do projeto voltado para oacolhimento dessas crianças e adolescentes, para que possamosreconstruir seus vínculos familiares e comunitários e ofereceroportunidades de estudar, de participar de atividades culturais eesportivas, por exemplo”, afirmou Arlete. A conferênciamunicipal é uma das etapas obrigatórias para a participação naConferência Nacional de Assistência Social, que será realizada emBrasília, no final do ano. O encontro, que ocorre a cada três anos,terá como tema a Participação e Controle Social no Sistema Únicode Assistência Social.