MPF denuncia Elza Pereira por lavagem de dinheiro

02/06/2009 - 20h25

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O Ministério Público Federal (MPF)em São Paulo denunciou hoje (02) a esposa do deputado federalPaulo Pereira da Silva (o Paulinho da Força Sindical), ElzaPereira, por lavagem de dinheiro, em um aditamento de denúnciada Operação Santa Tereza.Para o MPF, Elza Pereira permitiu a utilizaçãoda conta corrente da Meu Guri, organização nãogovernamental (ONG) que ela preside, para ocultar uma parcela dosvalores desviados de contratos do Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) firmados com a prefeitura de PraiaGrande e com as Lojas Marisa. “Optei pelo aditamento porque o momento eraoportuno para tanto”, disse a procuradora hoje, em entrevistacoletiva à imprensa, ressaltando não ter visto ainda anecessidade de um pedido de prisão.De acordo com o MPF, a Meu Guri é suspeitade ter recebido um cheque de R$ 37,5 mil de João Pedro deMoura, de recursos que a Polícia Federal acredita terem sido desviados doBNDES. Moura é um dos treze indiciados pela JustiçaFederal na Operação Santa Tereza. Em entrevista coletiva, realizada em maio do anopassado, na sede da Meu Guri, em Mairiporã, na região metropolitana de SãoPaulo, Paulinho disse que os R$ 37,5 mil foram recebidos pela ONGpara que a entidade pagasse dívidas atrasadas de condomínioe de IPTU de um apartamento que havia sido doado por Moura àONG, em 2004.“Nesse caso, dona Elza, ao ceder conscientementea sua conta para o depósito de dinheiro que sabia ser deorigem ilícita, concorreu para a prática do crime delavagem de dinheiro”, disse a procuradora.A Operação Santa Tereza investigouuma organização criminosa, que fazia uso de pessoas cominfluência política no BNDES, para conseguir a liberaçãode empréstimos para as prefeituras e empresas, e que seaproveitavam de projetos falsos elaborados por uma empresa deconsultoria. O dinheiro recebido do BNDES, segundo o MPF, era usadoem uma casa de prostituição e de tráfico demulheres, em São Paulo, chamada de W.E., quando entãoera lavado (legalizado). Além de Elza Pereira, a procuradora daRepública Adriana Scordamaglia também denunciou oex-prefeito de Praia Grande Alberto Mourão, que perdeu o foroprivilegiado após o término de seu segundo mandato. Oinquérito contra o ex-prefeito tramitava no Tribunal RegionalFederal (TRF) da 3ª região, mas voltou para a 2ªVara Federal Criminal especializada em crimes financeiros e delavagem de dinheiro.O MPF acredita que o ex-prefeito tenha autorizadoo desvio de 2% de uma verba de R$ 130 milhões do BNDES paraobras na cidade. Além de peculato, Alberto Mourãotambém é acusado, segundo o MPF, pelo crime decorrupção passiva por ter viajado oficialmente para oRio de Janeiro com passagens pagas por um dos articuladores daorganização criminosa que desviava os recursos doBNDES.No aditamento, que foi enviado hoje àJustiça Federal, mais duas pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal:Wilson Carvalho de Oliveira, presidente da ONG Instituto Brasileirode Desenvolvimento e Pesquisa Política, Social e Cultural doTrabalhador, conhecida como Força e Solidariedade; e FelícioMakloul, dono do prédio onde funcionava o Flat Imperial, queficava ao lado da casa de prostituição W.E..A procuradora da República AdrianaScordamaglia também ofereceu novas denúncias contraquatro pessoas que já haviam sido indiciadas na operação.O advogado Ricardo Tosto, que já foi conselheiro do BNDESnomeado pela Força Sindical, foi denunciado por lavagem dedinheiro. Jamil Issa Filho, ex-assessor do ex-prefeito de PraiaGrande foi denunciado agora por corrupção ativa, porter intermediado a compra das passagens de Alberto Mourão parao Rio de Janeiro, dispensando a empresa responsável pelofornecimento de passagens à prefeitura de Praia Grande. ManuelFernandes de Bastos Filhos, conhecido como Maneco, dono de uma casade prostituição e acusado de ser o principalarticulador do esquema de desvio de recursos do BNDES, foi agoradenunciado por corrupção ativa, por ter oferecido aspassagens ao prefeito João Pedro de Moura, que foi assessor dodeputado Paulinho e teria sido o responsável pelo depósitodo dinheiro na conta corrente da ONG Meu Guri. Maneco foi agora acusado porlavagem de dinheiro.Em entrevista à AgênciaBrasil, o advogado de Elza Pereira, Antônio Rosella, dissenão ter tomado conhecimento da denúncia, mas afirmouconsiderá-la “um absurdo”. Segundo ele, a denúncianão passa de uma “especulação políticaporque está violentando a esposa do deputado e a famíliaPereira”.O advogado Eugênio Malavasi, que defende oex-assessor do prefeito Jamil Issa Filho, também reclamou denão ter sido comunicado da denúncia feita pelaprocuradora e afirmou que pretende ir amanhã (3) até aJustiça Federal para obter mais informaçõessobre o caso. À Agência Brasil, o advogado deIssa Filho disse que seu cliente é inocente. “Nãohouve corrupção alguma”, afirmou.Já a assessoria de imprensa do advogadoRicardo Tosto criticou a nova denúncia. Segundo nota divulgadapela assessoria, a procuradora “requentou” fatos que játinham sido respondidos à Justiça.A assessoria do advogado diz ainda que os cerca deR$ 182 mil reais foram depositados pela Progus, empresa de MarcosMantovani, que é cliente do escritório de advocacia deTosto, e seriam referentes ao pagamento de honoráriosadvocatícios. “Tais pagamentos realizados pela Progus foramfeitos mediante emissão de notas fiscais”, diz a nota,ressaltando que uma auditoria feita pelo BNDES sobre os contratosinvestigados durante a Operação Santa Tereza nãoconstatou irregularidade. A assessoria finaliza com a afirmaçãode que Ricardo Tosto “aguarda com tranqüilidade” ojulgamento final do processo.