BNDES pode rever contratos de pecuaristas que provoquem desmatamento na Amazônia

01/06/2009 - 17h41

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Banco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES) poderá cancelar o créditoconcedido a empresas pecuaristas, caso verifique que os recursosestão provocando desmatamento na Amazônia. Isso estáprevisto dentro das novas operações do banco, informouhoje (1º) em entrevista à Agência Brasil, ochefe do Departamento de Meio Ambiente do BNDES, Eduardo Bandeira deMello. “Nós estamos exigindo das empresas líderes dacadeia que elas se responsabilizem pela atitude dos seusfornecedores”, afirmou. Mello admitiu que nas operaçõesanteriores, o banco olhava mais para o licenciamento ambiental daindústria frigorífica, que, segundo ele, nãomostra tudo. “E o licenciamento não cobre tudo. Quando agente financia as operações indiretamente, por meio deagentes financeiros, o que eles são obrigados a ver é olicenciamento. E, quando você olha o licenciamento de um grandefrigorífico, você vai ver que com ele está tudocerto”, disse. O problema, segundo o técnico doBNDES, estaria ocorrendo com os fornecedores. “Às vezes, ele[frigorífico] está adquirindo o gado de umfornecedor que não está respeitando o CódigoFlorestal, que está com algum tipo de pendência. Éisso que nós estamos tentando corrigir nas operaçõesque o banco vem apoiando de um a dois anos para cá”. Melloassegurou, contudo, que dentro de algum tempo tudo isso vai estarresolvido. De acordo com o estudo Abatendo aAmazônia, divulgado hoje pelo Greenpeace, o BNDES estariaapoiando, com mais de R$ 2 bilhões, pecuaristas responsáveispelo desmatamento da Floresta Amazônica. Falando à AgênciaBrasil, o superintendente da Área de Meio Ambiente doBNDES, Sergio Weguelin, confirmou que a instituição entrou de sócioem algumas empresas da indústria pecuarista, com a ideiade “fortalecer o capital das empresas e trazê-las para aformalidade, para as regras de governança, para as regrasambientais, para a sustentabilidade”. Trata-se, segundo Weguelin,da busca de capacitação das companhias e a inserçãoem um processo de investimento adequado e sustentável.“Do ponto de vista do apoio dobanco às empresas, o que a gente tem que ver é que issoestá criando um vetor na direção certa”. Osuperintendente de Meio Ambiente afirmou que não se conseguetransformar as indústrias pecuaristas em empresas sustentáveisda noite para o dia.Segundo ele, o BNDES estápreocupado em colocar cláusulas contratuais e participar dosconselhos das empresas. Do ponto de vista ambiental, lembrou que maisórgãos estão envolvidos no processo, e que a questão dolicenciamento deve incorporar regras da cadeia de fornecedores, o quenão vinha ocorrendo anteriormente. “Todos temos interesse emque a Amazônia não seja devastada, em que o gado nãoavance de forma predatória”, afirmou. Sergio Weguelingarantiu que o BNDES está se organizando de forma a que esseprocesso tenha cada vez mais mecanismos de controle.O superintendente esclareceu que boaparte dos recursos financiados pelo banco ao setor ocorreu viaparticipação acionária. “O banco entrou desócio dessas empresas. E muitos dos outros financiamentosocorreram indiretamente, às vezes, via Cartão BNDES. Euressaltaria que está ocorrendo agora um grande processovirtuoso de inserção dessa indústria naformalidade e nos melhores padrões de governança”,disse.