Empresários de Ouro Preto vêem bagunça no atual modelo carnavalesco

23/02/2009 - 9h05

Marco Antonio Soalheiro
Enviado Especial
Ouro Preto (MG) - O carnaval promovidopelas repúblicas estudantis e pela prefeitura, com potentessons mecânicos e espaços para marchinhas, axé,funk e hip hop no centro histórico, atrai umgrande número de visitantes para a cidade, que épatrimônio cultural da humanidade, mas provoca descontentamentoentre os que defendem a preservação cultural e aexploração de um turismo mais elitizado. “Não dá para exercer exploraçãoturística quando as atrações começam a sedeteriorar. Carnaval é tradicionalmente popular, mas nãopode se transformar em desordem. Vê-se o caos oficializado”,criticou Vicente Trópia, dono de um cinqüentenáriorestaurante no centro. Ele classifica de “bagunça” asituação das ladeiras no carnaval, lotadas e com todo otipo de lixo que se possa imaginar, apesar da limpeza diáriaque é feita. Trópia ironizou também a providênciaadotada pela prefeitura de colocar tapumes artísticos nalateral de ruas elevadas, com o objetivo de evitar acidentes. “Osujeito vem de Paris tirar fotografia e não consegue. Seria omesmo que, no réveillon do Rio de Janeiro, tapar o marpara evitar que ninguém que beba e consuma drogas se afogue.”O comerciante defende que o carnaval fiqueconcentrado em um espaço fora do centro histórico - comexceção dos blocos tradicionais - para preservar opatrimônio e não afastar da cidade no feriado turistasque estiverem mais interessados em programas culturais egastronômicos.“É um modelo mais civilizado, como no Riode Janeiro”, comparou. “Não pode é transformar acidade toda numa situação caótica de proporçõessem limites, deixando de lado a vocação natural depatrimônio cultural da humanidade”, argumentou Trópia.Críticas semelhantes tem Raimundo Saraiva,dono de um hotel e uma pousada na cidade, que apresentam baixaocupação no carnaval, segundo ele, em virtude daconcorrência das repúblicas e do modelo de folia. “Nosso propósito não éfazer esse tipo de festa. Até uns anos atrás, vinhapessoal de qualidade, gastava dinheiro e se divertia em blocos comdezenas de anos de história”, lembrou Saraiva. “Hoje,pessoas que gostariam de participar, deixam de vir porque vêemcomo uma bagunça. A cidade fica cheia, sem espaço paratransitar, falta água. Não tem estrutura para suportar30 mil pessoas a mais por dia”, acrescentou. Alguns empresários já expressaramseu descontentamento com a folia de massa ao MinistérioPúblico, e esperam a adoção de providênciasdo órgão para o próximo carnaval. Um delas seriaproibir a instalação de palcos com forte sonorizaçãopara shows ao vivo em largos e praças da cidade.