Haitianos pedem apoio para retirar missão de paz da ONU do país

01/02/2009 - 10h58

Juliana Cézar Nunes
Enviada Especial/Rádio Nacional Amazônia
Belém (PA) - Representantes demovimentos sociais haitianos e de organizaçõesinternacionais de direitos humanos discutiram no Fórum SocialMundial a situação do Haiti e da Missão das Nações Unidas para a Estabilização dopaís (Minustah). As críticas estão voltadasprincipalmente ao comando militar brasileiro da missão do ONU.O professor de economiada Universidade de Estado do Haiti e integrante da Campanha JubileuSul, Camille Chalmers, coordenou as reuniões com liderançasde movimentos sociais brasileiros e latino-americanos. Segundo ele,ainda este ano haverá uma missão de solidariedade aoHaiti. Serão convidados 25 representantes de movimentos daAmérica Latina para uma visita ao país, possivelmenteno dia 1º de maio.Para Chalmers, aMinustah transformou-se em uma “ocupação militar”que segue o “jogo do imperialismo”. “Apesar de dizerem que amaioria das tropas são sul-americanas, a direçãoe a orientação estratégica política estánas mãos dos Estados Unidos. Me parece muito feio que ossoldados do Brasil estejam colaborando para este tipo de projeto”,criticou Chalmers, em entrevista à Rádio Nacional daAmazônia.“Há um momentode indignação popular crescente. Esse sentimento poderesultar em rebeliões e em uma posiçãoinsustentável para a tropa, que não pode fazerrepressões massivas. Se os movimentos sociais do Brasil e daAmérica Latina nos apoiarem, podemos conseguir a saídadas tropas e a conversão dessa cooperaçãobrasileira em um projeto solidário real.”Camille Chalmers foichefe de gabinete do ex-presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide,entre 1993 e 1994. Apesar de ter feito parte do governo, ele tem umaavaliação crítica da gestão de Aristide.Reconhece que o ex-presidente frustrou as expectativas do haitianos enão realizou um mandato popular, adotando medidas de ajusteeconômico e social no país recomendadas pelos EstadosUnidos.“No primeiro momento,a participação do Brasil na missão deestabilização oferecia boas perspectivas. Mas hojepercebemos que está se gastando quase US$ 6 milhões porano para manter de pé um aparelho militar sofisticado. Essesrecursos poderiam ser usados para ajudar realmente o povo no Haiti,com investimento em áreas como saneamento, ecologia e saúde.”O professor de economiada Universidade de Estado do Haiti acredita que ainda épossível construir um projeto de cooperação maissolidário entre os dois países, principalmente porconta da base cultura e histórica comum.“No entanto,precisamos passar dessa fase de repressão, de violaçãode direitos. O que ocorre hoje não é solidariedade, nemapoio, é dominação. E o mais grave é queesse parece ser um ensaio de novas formas de ocupaçãomilitar. Temos que denunciar isso e converter essa missão numaverdadeira missão de solidariedade, que respeite os direitosdos povos do Haiti e a cultura haitiana.”Camille Chalmers foiconvidado pela Via Campesina para fazer uma análise deconjuntura em nome dos movimentos sociais, durante encontro com ospresidentes latino-americanos, na última quinta-feira (29). Em seu discurso, falando em espanhol com sotaque francês, eleressaltou o papel de líderes da região, como JoséMartí e Fidel Castro, e a resistência dos povos doCaribe.Para Chalmers, aAmérica Latina é a única região do mundoque passou da resistência frente à dominaçãodo capitalismo neoliberal à construção dealternativas concretas, como os governos da Venezuela e da Bolívia.“As conquistas atuaisse realizam em um grande e contínuo processo heróico deluta de nossos povos contra os exércitos europeus, luta contrao genocídio dos povos originários, luta contra aescravidão, contra o racismo, contra o patriarcado, contra oneocolonialismo e várias formas de dominaçãocapitalista. Os movimentos populares nascem desse longo processo deacumulação de forças e seguem desempenhando umpapel chave na resistência.”Para o economistahaitiano, o espaço do Fórum Social Mundial contribuipara a consolidação de uma nova cultura políticae para a construção de diferentes formas de relaçãoentre governos e movimentos sociais. Chalmers destacou como um dosavanços recentes da América Latina a experiênciaequatoriana de auditoria da dívida externa.“Estamos avançando,mas temos sérios desafios pela frente. A luta do capitaltransnacional contra nossos povos, contra nosso planeta, contra ascivilizações com milenária sabedoria popular,seguem se intensificando. A reinvenção de novas formasde relacionamento entre governos progressistas e movimentos sociais éuma das chaves para acelerar o processo de acumulaçãode forças orientadas para a reprodução dosistema capitalista e para a edificação de sociedadesnovas, de homens e mulheres novos.”