Advogado diz que Cesare Battisti aguarda pela liberdade "ansioso e aliviado" com refúgio

16/01/2009 - 16h15

Marco Antonio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - À espera de umadecisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que revogue a sua prisãopreventiva, o escritor italiano Cesare Battisti, a quem o governobrasileiro concedeu refúgio político nesta semana,tenta controlar a ansiedade para desfrutar de algo que esperava hálongos anos. O relato é do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh,um dos responsáveis pela defesa de Battisti. Eles seencontraram ontem na penitenciária da Papuda, no DistritoFederal “Ele estava, de umlado, aliviado, porque passou trinta e oito anos se exilando naFrança, no México, vindo para o Brasil. Agora vai terpaz e a possibilidade de não temer mais perseguiçãopolítica. Também está ansioso, pois jáestá há quase dois anos preso preventivamente emvirtude do processo de extradição e quer voltar aescrever” , informou Greenhalgh, em entrevista à AgênciaBrasil. O advogado consideraque a liberdade de Battisti será consumada em questãode dias, uma vez que o STF já foi comunicado oficialmente dadecisão do governo brasileiro. A extradição, quetramita na Corte, foi pedida pelo governo italiano e se deve ao fato de Battisti ter sido condenado naquele país à prisãoperpétua, acusado de ser o autor de quatro assassinatos, quandomilitava no grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Acondenação se deu com base em declaraçõesde um dos líderes do PAC, Pietro Mutti, que teria setransformado em colaborador da Justiça, após ser preso etorturado. Segundo Greenhalgh,Battisti nunca admitiu ter qualquer envolvimento com as mortes e háinúmeros indícios de tratar-se de perseguiçãopolítica. Um deles seria o fato de dois dos homicídiosimputados ao escritor terem sido praticados no mesmo dia, emhorários próximos, em cidades distantes mais de 500 quilômetros uma da outra."Quem analisa o caso delonge pode estranhar o Brasil ter concedido refúgio a umapessoa condenada à prisão perpétua. Mas quemconhece o processo, viu os absurdos que foram feitos, os advogados presos por terem aceito a causa dele, a condenaçãofeita por causa de um arrependido envolvido nos mesmos episódios, em um processo à revelia, sabe que esse é um processopolítico”, argumentou ao advogado. “Os homicídiosforam feitos em praça pública e não hátestemunha que tenha visto o Cesare Battisti nestes fatos”,acrescentou.Greenhalgh criticou ainsistência do governo italiano em pedir uma revisão daconcessão do refúgio. “Há uma perseguiçãopolítica e o governo da Itália tem que respeitar adecisão soberana do governo brasileiro”. Detido na Papuda desde2007, Battisti está em cela coletiva. O relato é de que divide seu tempo entre conversas com os presos e a escrita detextos. Ele estaria prestes a concluir mais um livro, o 17º desua autoria, sobre a experiência dos anos 70 na Itália ea vida de fuga da perseguição política. “Ele [Battisti]escreve à mão, em cadernos que eu levo, e depois meentrega as partes”, contou Greenhalgh.A saúde doescritor estaria combalida neste momento, segundo o advogado.Battisti apresenta taxa de glicemia elevada e hepatite B, o quemotivou um dieta especial recomendada pelos médicos dopresídio.