Cientistas brasileiros trazem gelo da Antártica para estudar mudanças climáticas

07/01/2009 - 0h10

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois de16 dias no continente antártico, com temperaturas de até40 graus negativos, o grupo de sete cientistas brasileiros e umchileno da expedição Deserto de Cristal, quedesembarcou hoje (7) no Brasil, trouxe na bagagem muito gelo parapesquisa. O material será analisado no únicolaboratório de glaciologia do país, na UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul.

“Nointerior do gelo está o material que nos interessa: sãopequenos glóbulos de ar retidos durante centenas de anos. Comesse material é possível fazer comparaçãoentre atmosfera passada e atmosfera presente, ver a diferençaentre a concentração de gás carbônico, atemperatura da terra”, explicou a coordenadora para Mar e Antárticado Ministério da Ciência e Tecnologia, Maria CordéliaMachado.

De acordocom a coordenadora, essa foi a primeira vez que pesquisadoresbrasileiros avançaram continente adentro. “Ele ficaram muitopróximos do Pólo Sul”, relata. As amostras de geloforam coletadas a 45 e a 95 metros de profundidade no Monte Johns, amais de mil quilômetros da Estação AntárticaComandante Ferraz, base brasileira no continente.

SegundoMaria Cordélia, as pesquisas com gelo são fundamentaispara o estudo das mudanças climáticas, por fornecercomparações numéricas da concentraçãode gás carbônico, um doschamados gases de efeito estufa, que, intensificado, provoca oaquecimento global.

“Éfundamental saber que quantidade de gás carbônicoexistia em 1700, depois comparar com a concentração dogás na época da Revolução Industrial ecom a nossa época para traçar estratégias para ofuturo do planeta”, avaliou.

Alémdos estudos climáticos, a Antártica écenário para pesquisas sobre radiação solar,raios ultravioleta e camada de ozônio. “Outro exemplo éo estudo do não-congelamento do sangue de peixes antárticos,para, com base nisso, desenvolver pesquisas para a saúdehumana”, acrescentou a coordenadora do MCT.

Aexpedição Deserto de Cristal ainda não tem novasviagens programadas ao interior do continente. A partir dosresultados obtidos com as amostras coletadas, o grupo definiráas próximas etapas e a necessidade de novas coletas.

Jáa Estação Antártica Comandante Ferraz funcionadurante todo o ano, com pesquisas dedicadas principalmente ao estudoda biodiversidade do chamado continente gelado. “O Brasil agora tem dois naviosantárticos, vai poder trabalhar muito bem toda a baía,o entorno, com pesquisas oceanográficas, sobre abiodiversidade”, destacou a coordenadora.