Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O presidente do Conselho de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Armando Guedes Coelho, defendeu hoje (16) a abertura da exploração de petróleo na camada pré-sal no Brasil às empresas estrangeiras. Segundo ele, sem a parceria com o capital internacional, o Brasil não terá condições de efetuar os investimentos necessários no pré-sal. Guedes foi presidente da Petrobrás entre junho de 1988 e janeiro de 1989, além de ter dirigido a área industrial da estatal.
O primeiro desafio a ser vencido é o equacionamento financeiro. “Estamos falando em algo beirando US$ 1 trilhão. Então, não dá para fazer isso com recursos próprios”, argumentou. Guedes disse que a atuação das empresas internacionais no país não fere a soberania nacional.
De acordo com ele, uma maneira de prevenir problemas futuros é garantir o controle brasileiro nos consórcios. “Temos que pensar grande, porque o problema é grande. Temos que ter uma dimensão de país e olhar bem para a frente, o que é a demanda que ele vai ter. Sozinhos não vamos conseguir fazer isso.”
Guedes ressaltou a importância de o Brasil colocar a mão no petróleo do pré-sal o quanto antes, tendo em vista sua importância para o mundo. E para tornar isso realidade, enfatizou, a receita é ter uma agregação de participação. Além de garantir recursos, frisou que a empresa estrangeira pode representar também o ingresso no país de novas tecnologias. “O Brasil precisa ter essa consciência”.
Guedes enfatizou que serão justamente as descobertas do pré-sal que poderão atender à projeção de consumo mundial de petróleo de 113,3 milhões de barris diários em 2030, contra 84,7 milhões de barris/dia em 2006. Isso significará um acréscimo de quase 50% da demanda de petróleo. “Ou seja, algo como 28,6 milhões de barris por dia. Esses 28 milhões de barris deveriam ser acrescidos a nível de produção para atender o mercado mundial de petróleo, sem falar na perda natural que os campos têm”, observou.
A perda dos campos em operação oscila entre 8% a 10% ao ano. Isso representa de 7 milhões a 8 milhões de barris por ano, para uma produção de 84 milhões de barris/dia, informou Guedes. Acrescentou que além dos 28,6 milhões que teriam de ser agregados à nova demanda “teria que somar quase uma Arábia Saudita por ano para repor o decréscimo de produção natural”.
Esse é um grande problema que reforça a importância do pré-sal para o Brasil e para o mundo. De acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), as reservas prováveis na camada pré-sal alcançariam 50 bilhões de barris de óleo. “Quer dizer, o Brasil tem uma enorme possibilidade de se tornar um dos maiores produtores desse insumo, que vai ser vital no horizonte de 20 a 50 anos”, manifestou o presidente do Conselho de Energia da Firjan.
A grande questão, enfatizou, é como tornar palpável essa grande descoberta. Os desafios, enumerou, incluem, além da questão financeira, o equacionamento nas vertentes tecnológica, de recursos humanos e serviços, logística e regulatória. Nesse último campo, Guedes salientou que a sustentabilidade do pré-sal está associada à capacidade do Brasil de criar um ambiente de atratividade de investimentos, internos e externos. “Internamente não é suficiente”. E essa atratividade deve ser fundamentada em regras políticas, simples e claras, que compõem o marco regulatório.
Afirmou que a prioridade das grande empresas do setor mundial de petróleo e gás é investir no pré-sal no Brasil. “O que elas precisam é ter uma garantia de um marco regulatório sustentável e duradouro. Ninguém vai botar algumas centenas de bilhões de dólares no Brasil se não tiver confiabilidade de que isso é uma coisa para durar”.
O presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, é da mesma opinião. Afirmou que o marco regulatório seguro é condição fundamental para dar garantia aos investimentos externos. “É uma oportunidade gigantesca que o Brasil tem. Só precisamos ter juízo para colher esses investimentos. E os parceiros internacionais são fundamentais, porque nós, ou seja, o Brasil, não vamos ter capacidade financeira para levar isso adiante”.
Somente como exemplo de oportunidades para o petróleo brasileiro Guedes mencionou que os Estados Unidos produzem apenas sete milhões de barris de petróleo/dia do total de 21 milhões de barris consumidos, tendo que importar 14 milhões de barris diários. Ele não vê nenhuma possibilidade de desaquecimento do setor pré-sal no Brasil diante da crise financeira mundial. “Para essa área, não”, afiançou. E completou: “Porque é prioridade deles [das empresas estrangeiras], porque o mundo precisa disso”.