Ipea: governo precisa reduzir juros e manter gastos sociais para garantir renda do trabalhador

11/11/2008 - 23h43

Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O aumento da renda dotrabalhador e a maior oferta de empregos que vêm ocorrendodesde 2005 só continuarão se o governo reduzir a taxade juros básicos da economia, a Selic, e mantiverinvestimentos nas áreas de saúde e de educação,além de construir escolas e hospitais. Para isso teráque reduzir as despesas com pagamentos de juros da dívidapública.A posiçãofoi manifestada hoje (12) em entrevista coletiva pelo presidente doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), MarcioPochman.Estudo divulgado hojepelo instituto mostra que a principal fonte de renda do paísem 2011 deverá vir do trabalho, caso a crise financeirainternacional não atrapalhe, daí a recomendaçãode que o governo tome as medidas adequadas.Segundo o estudo, aredução da Selic, que está hoje em 13,75% sejustificaria porque não está havendo inflaçãode demanda, ou seja, aquecimento de consumo.Marcio Pochmann lembrouque a distribuição de renda no Brasil vem melhorando emperíodo bem recente , com a redução dadesigualdade entre os que ganham mais e os que ganham menos. Ao mesmotempo, está ocorrendo maior participação dosalário na renda nacional."Toda vez queaumenta essa participação do salários na rendanacional há redução da desigualdade e hámelhoria na distribuição de renda".A. participaçãodos trabalhadores na renda nacional está atualmente em 40% doProduto Interno Bruto (a soma das riquezas acumuladas anualmente nopaís). Em 1980 essa relação era de 50% do PIB enos anos 50 chegou a 56%.Pochmann prega anecessidade de ser retomada a proporção dos anos 50, emvista da situação atual da economia, de forma a reduzira desigualdade que existe entre a renda dos proprietários e ados trabalhadores no país.A partir de 1990 houveuma série de transformações no país, como combate à inflação e à abertura daeconomia mundial, promovendo alterações na repartiçãoda renda entre empregados e proprietários, que ganham a partirda própria estrutura econômica que têm.Em 1990 os empregados(chamados no estudo de trabalhadores) tinham renda superior àdos proprietários, proporção que ficou reduzidacom o passar do tempo, segundo o Ipea.Somente em doisperíodos nos últimos 17 anos, a renda dos trabalhadorescresceu no cenário nacional. Primeiro, entre 1996 e 2001 eagora desde 2005, graças à combinaçãoentre a expansão do emprego e a remuneração dostrabalhadores, com a execução pelo governo de gastopúblico mais adequado visando a beneficiar as classes de baixarenda.A desigualdade entrequem ganha mais e quem ganha menos não diminuiu, segundoPochmann, mas a distribuição entre os trabalhadoresmelhorou. Ele advertiu, porém, que os bons sinais colhidos apartir de 2005 podem ficar comprometidos com a crise financeirainternacional.Pochmann alertou que asinstituições financeiras não estãopromovendo a expansão do crédito na medida do esforçodo governo, que tem feito concessões. Segundo ele, essasempresas estão preferindo aplicar em títulos públicosante a incerteza do momento, porque têm mais garantia deremuneração do que emprestar ao setor produtivo ou aoconsumidor.