Brasil e Índia intensificam cooperação na área espacial

22/10/2008 - 19h41

Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um acordo de cooperação internacional firmado entre os governos brasileiro e indiano vai possibilitar que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) acompanhe a trajetória de um foguete – lançado hoje (22) pela Índia – até o momento em que o satélite Chandrayaan-1 entre na órbita lunar, em 8 de novembro. A experiência permitirá aos cientistas do Inpe conhecer a técnica utilizada pela agência espacial indiana para tornar elípticas as órbitas dos satélites, algo ainda inédito para o Brasil. O lançamento do foguete foi acompanhado de perto pelo chefe do Centro de Rastreamento e Controle de Satélite do Inpe, Pawel Rozenfeld. “Fiquei impressionado com a precisão e o desempenho do foguete, que colocou a sonda exatamente no lugar previsto, acima da Indonésia. Estamos bastante atentos às manobras que eles realizam com os propulsores. É preciso calcular exatamente em que ponto se aplicam as forças, e o tempo de duração delas até que, aos poucos, se chegue à forma orbital elíptica”, explica Rozenfeld.A comunicação com os cientistas indianos é, segundo Rozenfeld, bem mais fácil do que as feitas com cientistas de outras agências. “Eles são menos formais. Os americanos e europeus cobram muita papelada, formulários e documentações. Com os indianos basta um telefonema ou um e-mail”, comenta.A parceria com a Índia ajudará também nos lançamentos de foguetes a partir da base aérea de Alcântara. “Precisaremos do suporte deles porque, após serem lançados, nossos satélites saem da nossa visibilidade, seguindo para o oriente. A visão geográfica deles nos auxiliará na coleta de dados. Por eles também estarem situados em região tropical, compartilham de problemas similares aos nossos, o que nos possibilitaria buscar soluções de forma conjunta”, argumenta Rozenfeld.Chefe de uma equipe de 60 pessoas distribuídas entre São José dos Campos (SP), Cuiabá (MT) e Alcântara (MA), Rozenfeld é responsável por realizar as manobras dos satélites brasileiros em órbita, principalmente nos da família Cbers – que tem por função principal a coleta de imagens. “Eles tendem a perder altitude, borrando as imagens. Cada manobra consome entre 100 e 150 gramas de combustível. Em média fazemos três ou quatro manobras anuais”, explica.“Mais de 3 mil instituições brasileiras são usuárias das imagens produzidas pelos dois satélites Cbers. Não existe nenhuma instituição ligada ao meio-ambiente que não faça parte dessa lista. Seja da esfera pública, privada, acadêmica ou mesmo ONGs”, garante o coordenador do Programa de Aplicação de Cbers, José Carlos Epiphânio. Os satélites Cbers são fruto de uma parceria do Brasil com a China e já distribuíram mais de 500 mil imagens para órgãos como a Polícia Federal, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de diversas universidades e ministérios. “As imagens coletadas pelo Inpe nos ajudam a produzir diversos tipos de provas materiais para o Judiciário”, explica o chefe da Área de Perícias de Meio Ambiente da Polícia Federal, Mauro Magliano. Segundo ele, o Instituto Nacional de Criminalística gastava até US$ 3 mil por imagem coletada pelos satélites estrangeiros. “Ao se estabelecer como gerador desse tipo de imagens, o Inpe passou a nos fornecer o mesmo tipo de serviço gratuitamente”, completou.Em novembro, Epiphânio vai à China para discutir o andamento dos Cbers 3 e 4, que serão lançados em 2010 e 2013, respectivamente. “O Brasil está cada vez mais protagonista nessas áreas. Se antes detínhamos apenas 30% no que se referia aos aspectos de custo e de desenvolvimento aplicados, hoje somos responsáveis por 50% do que compõe os projetos”, comemora Epiphânio.Hoje, também, o satélitede coleta de dados SCD-2 completou 10 anos de serviço. E ontem (21) oCbers-2 – satélite coleta de imagens que tinha expectativa de funcionarpor dois anos – completou cinco anos de intenso trabalho.