Banco Central eleva taxa básica de juros para 13,75% ao ano

10/09/2008 - 20h28

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Comitê dePolítica Monetária (Copom), do Banco Central, reajustouhoje (10) a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,75 pontopercentual, e repetiu a “calibragem” usada na reunião doúltimo mês de julho. Reafirmou, assim, a expectativamédia de uma centena de analistas financeiros ouvidos pelapesquisa Focus que o BC realiza todas as semanas. A taxa de juros queremunera os títulos depositados no Serviço Especial deLiquidação e Custódia (Selic) estava em 13% aoano, e passa a valer 13,75% até a próxima reuniãodo Copom, dias 28 e 29 de outubro."Avaliando o cenário macroeconômico, o Copom decidiu elevar a taxa Selic para 13,75% ao ano, sem viés, por cinco votos a favor e três pela elevação da taxa em 0,50%, com vista a promover tempestivamente a convergência da inflação para a trajetória de metas", diz a nota divulgado há pouco pelo Comitê de Política Monetária.Embora a maioria dosanalistas de mercado e de instituições financeirasapostasse na elevação de 0,75 ponto percentual,dirigentes de instituições representativas dosempresários e das centrais de trabalhadores defendem anecessidade de a autoridade monetária conter o aumentocontinuado da taxa básica de juros, que começou 2008 em11,25%, e a partir de abril voltou a subir como forma de conterpressões inflacionárias.Mas não sóempresários e trabalhadores são contrários àselevações da Selic. O presidente do Conselho Regionalde Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ), João Paulo deAlmeida Magalhães, diz que “aumentar a taxa neste momento éuma loucura”. Ele acredita que o corte de gastos seria uma medidamais efetiva no combate à inflação.João Paulolembra que um dos maiores gastos do Estado é com o pagamentodos juros da dívida, estimado em R$ 160 bilhões nesteano, o que, por si só, recomendaria corte na taxa de juros.Mas, já que não se faz isso, acrescentou, “acho que amelhor alternativa seria uma política de rendimentos quecoloque a remuneração dos agentes econômicos emníveis médios, como se fez no Plano Real”.Outros defendemaumentos de menor magnitude, uma vez que a inflaçãoperdeu força e dá mostras de chegar ao fim do anoabaixo do teto da meta de 6,5%. É o caso do vice-presidente daAssociação Nacional dos Executivos de Finanças,Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel JoséRibeiro de Oliveira.Ele entende que ajustificativa de aumentar os juros para conter o consumo domésticotem efeito mínimo: “Não traz qualquer mudançana intenção de compras”. Oliveira disse que adistância entre a taxa Selic e as taxas efetivamente cobradasnos financiamentos era até então de 134,22% ao ano, oque dá uma variação de quase 1.000% entre asduas pontas, e garante que tem financeira cobrando diferençade até 1.500% no crédito pessoal.Por isso, Ribeirosustenta que o aumento da taxa básica de juros “não ésuficiente para reduzir as intenções de compra”, umavez que acrescenta apenas alguns reais nos financiamentos, e “parao consumidor o que interessa mais é a garantia do emprego esaber se as prestações do novo financiamento cabem noseu bolso”.Ao contrário,porém, os representantes dos agentes financeiros querem astaxas mais altas do que já estão, como o economistaFábio Susteras, do Banco Real. Ele afirma que apesar da quedarecente nos preços das commodities (produtos comcotação internacional, que compõem mais demetade da pauta de exportações brasileiras), cujoreflexo tem se mostrado no recuo dos preços dos alimentos,“existem outros itens que ainda preocupam o BC, como o descompassoentre oferta e demanda”.