Em Pequim, local que abrigava antigas fábricas vira reduto de artistas e turistas

14/08/2008 - 17h24

Mylena Fiori
Enviada Especial
Pequim (China) - Dezenasde galerias, lojas, livrarias, cafés e restaurantes povoam as antigasfábricas do Distrito 798, no Noroeste de Pequim. A região – comparadapela mídia internacional com o Soho nova-iorquino (bairro no qual se concentram galerias e boutiques famosas) – até bem pouco tempoestava ameaçada de ir abaixo para abrigar um centro de alta tecnologia.Para os Jogos Olímpicos, ganhou placas indicativas em inglês, um centrode atendimento a turistas e até uma página na internet. Sinal dostempos.Fala-seque o Distrito 798 já recebe mais turistas que a Cidade Proibida.Também é destino de galeristas e colecionadores do mundo todo, em buscados novos talentos da arte contemporânea chinesa. E dos yuans (moeda chinesa) domercado que mais cresce no mundo.Masessa história é recente. E polêmica. Tudo começou em meados dos anos90, quando a Academia Central de Belas Artes se instalou em um galpãoabandonado de um antigo complexo industrial no Distrito de Dashanzi,distante cerca de 20 quilômetros do centro de Pequim. As fábricas foramconstruídas nos anos 50 por Mao Tse-Tung, com ajuda do governosoviético e de arquitetos e engenheiros da antiga Alemanha Oriental, emuma área de 500 metros quadrados.Abandonadohavia décadas, o charmoso endereço foi descoberto pela Academia Centralde Belas Artes e passou a atrair a vanguarda artística de Pequim navirada do milênio. O primeiro a ir para lá foi o fotógrafo Xu Yong, queconheceu o lugar em 2002 e se apaixonou. Alugou e reformou a antigafábrica 798, e o lugar que originalmente produzia eletrônicos passou aabrigar uma galeria de 1380 metros quadrados chamada Espaço 798.  Depoisdele vieram outros, e mais outros, atraídos pelo charme e pelo baixocusto do aluguel, transformando galpões em lofts, onde viviam epraticavam suas artes. Em 2003, em plena epidemia da SíndromeRespiratória Aguda Grave (Sars), uma grande exposição sobre a doençadespertou os olhares da mídia sobre o gueto das artes. Foi o quebastou.Emmenos de cinco anos, o aluguel no Distrito 798 saltou de 0,60 yuans (R$0,15) o metro quadrado por dia para 6, 7 e até 8 yuans. WenLi, gerente do Espaço 798, conta que há uma fila para alugar um espaçono antigo complexo industrial – a maioria dos interessados,estrangeiros. “No início, não imaginávamos que o 798 se tornaria o quese tornou”, diz.Amaior parte do grupo de cerca de 40 artistas que inicialmente se instalouali foi embora, e os ateliês cederam lugar a espaços comerciais. Tudoestá mais organizado e mais limpo, descreve Wen Li. Um poucoartificial, ela reconhece. Mas também tem seu lado positivo. “Por umlado, os artistas tiveram que ir embora. Por outro, tem mais comércio eisso está atraindo galerias internacionais que mostram aos chineses aarte de outros países, e isso serve como referência”, avalia. “Assim aChina pode chegar a um nível ainda mais alto na sua produçãoartística”, acredita. Enquanto isso, os turistas se divertem na disneylândia da arte contemporânea chinesa.