Trabalhador rural é o mais atingido por contaminação

23/04/2008 - 11h35

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Se os novos dados sobre contaminaçãode alimentos por agrotóxicos, divulgados hoje (23) pela Agência Nacional deVigilância Sanitária preocupam os consumidores, o perigo é ainda maior paraquem trabalha nas lavouras. O risco de toxicidade para ostrabalhadores rurais é apontado no relatório do Programa Nacional de Análise deResíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para) e reconhecido pela ConfederaçãoNacional dos Trabalhadores em Agricultura (Contag).

“O produtor é quem se contaminaprimeiro”, afirma o secretário de assalariados da Contag, Antônio Lucas. Segundo ele é  grande freqüência de casos de contaminação por agrotóxicosrecebidos em sindicatos e associações de trabalhadores de todo o país. “E não ésó no caso de hortaliças. A gente encontra na cana-de-açúcar e em outraslavouras, principalmente durante o plantio e na preparação para a colheita”,acrescenta.

De acordo com o relatório daAnvisa, o uso de práticas agrícolas incorretas e o desrespeito à legislação sãoos principais agravantes para a saúde do trabalhador. “Os trabalhadorescom menos recursos financeiros e menor nível de instrução geralmente utilizamequipamentos de aplicação manual, pouco ou nenhum tipo de Equipamento deProteção Individual (EPI), ficando mais expostos às intoxicações agudas ecrônicas por eles causados”, mostra o documento.

O representante da Contagargumenta que a responsabilidade da proteção da saúde do agricultor cabe aopatrão, mas reconhece que nem sempre as convenções trabalhistas chegam àslavouras. “A lei obriga o treinamento, os Equipamentos de Proteção Individual ea realização de exames médicos periódicos. Têm previsão legal e multa para quemnão cumprir, mas a gente sabe que a realidade do Brasil é complicada”

No caso de tomate, alface emorango, produtos que apresentaram os maiores índices de contaminação em2007,  Lucas reconhece que uma partesignificativa da produção vem de pequenas propriedades. Nesses casos, aestratégia da Contag é orientar os produtores para a adoção de novas técnicasagrícolas, como a utilização de defensivos alternativos e a produção orgânica.

“Mas isso é complicado peloseguinte: você faz uma campanha e diz que isso [o agrotóxico] é proibido e que não se pode usar esses produtos. Apergunta é sempre a seguinte: o que nós devemos usar no lugar do veneno?”,relata Lucas, ao questionar a falta de incentivos e políticas públicas paraorientar e facilitar o acesso do pequeno produtor a técnicas alternativas aosagrotóxicos químicos.

O coordenador do Departamento deAssistência Técnica e Extensão Rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário,Francisco Caporal, admite “algumas carências em alguns cultivos, no sentido dasubstituição de insumos tradicionais, agrotóxicos, por outros tipos decontrole”, mas argumenta que já existem experiências de produção orgânica emquase todos os cultivos

“Estamos capacitando técnicos eprodutores para que possam fazer uma transição de sistemas tradicionais paraagricultura de base ecológica e as experiências se multiplicam no Brasilinteiro”, afirma Caporal.

Além da atuação mais presente dasequipes de assistência técnica e da liderança dos agricultores, Caporaldefende a informação como uma das ferramentas para evitar prejuízos  à saúde com os resíduos de agrotóxicos.

“Precisamos de um trabalho deconscientização de agricultores sobre os efeitos nocivos dos pesticidasagrícolas. E também esclarecer os consumidores da necessidade de escolherprodutos com menor possibilidade de contaminação e isso já é possível nasfeiras, nas Ceasas, supermercados”.