Discurso contra biocombustíveis é equivocado, diz Amorim

18/04/2008 - 16h07

Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Rebatendo a críticas, feitas nos últimosdias, de que os biocombustíveis são responsáveispela alta do preço dos alimentos, o ministro das RelaçõesExteriores, Celso Amorim, disse hoje (18) que o Brasil é amaior prova de que isso não é verdade. “No Brasil, aprodução de etanol aumentou junto com a produçãode alimentos”, afirmou.A declaração foi feita depois que oministro assinou termos de cooperação com odiretor-geral da Organização das NaçõesUnidas para Agricultura e Alimentação (FAO), osenegalês Jacques Diouf. A cooperação visa àtransferência de tecnologias e recursos para o combate a fomeem países da América Latina e Caribe, com prioridadepara o Haiti, que vive a situação mais crítica.Feito com manejo responsável, cuidando paraque a renda seja distribuída e o alimento chegue ao pobre,acrescentou o chanceler, os biocombustíveis podem ser umafonte de riqueza e “redenção” para paísesafricanos e latino-americanos, totalmente compatível com aprodução de alimentos. “Como foi reconhecido pelo própriodiretor-geral da FAO, o que impediu o crescimento da produçãode alimentos em países africanos e sul-americanos foram ossubsídios. Não foi o biocombustível. Quer dizer,ninguém na África deixou de produzir alimentos paraproduzir biocombustíveis. Não produziam alimento econtinuam sem produzir alimento porque os subsídios agrícolasda Europa e dos Estados Unidos impedem que isso ocorra”, argumentouAmorim.Segundo o ministro, os subsídios agrícolasconcedidos a produtores europeus e norte-americanos são osprincipais causadores da alta no preço dos alimentos, e osorganismos internacionais deveriam ser mais incisivos em suasrecomendações. “Que me conste, o alimento não estavachegando ao pobre antes. Nunca estava chegando, e ninguémestava reclamando. Se o FMI [Fundo Monetário Internacional]puder ajudar para que países africanos e paíseslatino-americanos mais pobres possam produzir biocombustíveis,que entrem sem barreiras nos países ricos, eles estarãoajudando a renda desses países, e é com renda que seobtém alimentos”, sugeriu Amorim ao referir-se a declaraçõesdo diretor geral do FMI, Dominique Strauss-Khan, para quem o pior dacrise dos alimentos ainda está por vir, e que produzircombustíveis a partir de culturas alimentícias éum problema moral. “O que prejudica a produção dealimentos nos países pobres, vamos ser claros, é aexistência de subsídios e das barreiras nos paísesricos. Se o diretor-geral do FMI e o presidente do Banco Mundialquerem dar uma recomendação que realmente melhore aprodução de alimentos nesses países, deveriamdizer o seguinte: em vez de reduzir [os subsídios agrícolas]para US$ 14 bilhões nos Estados Unidos ou para US$ 20 bilhõesna Europa, reduz a zero”, disse o ministro.Amorim disse que a preocupaçãoinicial a respeito da produção de biocombustíveispode até ser legítima, mas as conclusões sãosimplistas e têm como base um tipo de preocupaçãoprotecionista.