Copom eleva taxa básica de juros para 11,75% ao ano

16/04/2008 - 19h50

Stênio Ribeiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Comitê de PolíticaMonetária (Copom), do Banco Central, elevou hoje (16) a taxabásica de juros para 11,75% ao ano, sem viés, ou seja, sem possibilidade de aumentar antes da próxima reunião, marcada para os dias 3 e 4 de junho. A decisão foitomada por unanimidade de acordo com expectativa média da maioria dosanalistas financeiros ouvidos em pesquisa semanal do BC, que verificaas tendências do mercado sobre os principais indicadores daeconomia. Os analistas apontavam para um aumento de 0,25 ou 0,50 ponto percentual.O comitê entendeu que a decisão de realizar, de imediato, um ajuste maior da taxa básica de juros "irá contribuir para adiminuição tempestiva do risco que se configura para o cenárioinflacionário e, como conseqüência, para reduzir a magnitude do ajustetotal a ser implementado".É a primeira vez desde maio de 2005 que a taxa sofre aumento. Também chamada de Selic,porque remunera os títulos depositados no Sistema Especial deLiquidação e Custódia, a taxa básica dejuros estava estacionada em 11,25% desde setembro do ano passado.Havia, inclusive, a possibilidade de retomada do processo gradativode pequenas reduções, no segundo semestre deste ano.Essa tendência mudou, porém,com o recrudescimento da inflação em alguns setores dovarejo. Em especial com relação ao comércio dealimentos como feijão, carne bovina, leite pasteurizado eprodutos derivados do trigo. Os alimentos foram os maioresresponsáveis pelo aumento do Índice de Preços aoConsumidor Amplo (IPCA), que ficou em 4,73% nos últimos 12meses.A meta anual de inflaçãodefinida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2008 éde 4,5%. Os analistas estimam IPCA de 4,66% neste ano, com reduçãopara 4,37% nos próximos 12 meses. Com a alta acima da meta, adiretoria do BC emitiu sinais de aperto monetário paracontrolar as pressões inflacionárias.Segundo o presidente da ConfederaçãoNacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, a decisãocontraria os planos de investimento dos setores empresariais. Eledisse que a alta dos juros pesa mais sobre os investimentos do quesobre o consumo da família brasileira. Além disso, oefeito do aumento da Selic, na opinião de Monteiro Neto, paraconter a demanda por produtos e serviços é poucosignificativo.Já o presidente da Federaçãodas Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), PauloSkaf, citou o princípio constitucional de que o poder emana dopovo, para reivindicar juros mais baixos. “A sociedade brasileiraquer juros baixos para manter o crescimento econômico, com maisempregos e renda, que são os maiores bens comuns de um povo”,disse.Skaf lembrou, ainda, que a elevaçãodos juros estimula a entrada de capitais especulativos no país,que pressionam a desvalorização do dólar eprovocam a redução da competitividade dos produtosbrasileiros no exterior. Exemplo disso, segundo ele, foi adesvalorização de 1,19% da moeda norte-americana,cotada hoje a R$ 1,664, o nível mais baixo desde maio de 1999.A Consultoria LCA, de SãoPaulo, divulgou nota segundo a qual o ajuste na expectativa deinflação não justifica o aumento imediato dataxa de juros; em especial porque grande parte da inflaçãose refere a poucos itens alimentares. Para os consultores, o apertomonetário deverá ser “o mais breve e comedidopossível”.A LCA projeta evoluçãofavorável da inflação nos próximos meses,exceto para os derivados de petróleo e produtos metalúrgicos(os últimos com grande incorporação de ferro).Os preços do óleo cru e do ferro estão comcotações acima dos preços históricos nomercado mundial.