Saldo negativo nas transações com o exterior é o maior para fevereiro desde 1947

24/03/2008 - 14h37

Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O resultado negativo do saldo em transações correntes (todas as transações do Brasil com o exterior) em fevereiro (US$ 2,090 bilhões) e no primeiro bimestre (US$ 6,322 bilhões) do ano foi o mais elevado do período desde o início da série histórica, em 1947. Para o mês de fevereiro, a projeção do Banco Central (BC) era de US$ 1,7 bilhão. Para este mês, a expectativa do Banco Central é fechar com déficit em transações correntes de US$ 3 bilhões. No ano, a projeção para o déficit em transações correntes passou de US$ 3,5 bilhões para US$ 12 bilhões. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o resultado do acumulado do ano é explicado pelo crescimento das importações. "As importações vieram em ritmo mais forte do que prevíamos."O saldo da balança comercial (exportações menos importações) ficou em US$ 1,826 bilhão no primeiro bimestre deste ano, resultado bem inferior ao registrado no mesmo período de 2007 (US$ 5,415 bilhões).Para este ano, o Banco Central revisou a projeção para o saldo da balança comercial de US$ 30 bilhões para US$ 27 bilhões, com importações de US$ 155 bilhões e exportações de US$ 182 bilhões. Se as projeções se confirmarem, as exportações vão crescer 13% e as importações 29%, na comparação com 2007.No caso dos serviços e rendas, a projeção passou de US$ 37,7 bilhões de saldo negativo para US$ 42,8 bilhões. A projeção para a remessa de lucros e dividendos passou de US$ 20 bilhões para US$ 24 bilhões. Segundo Altamir Lopes, a revisão dessa projeção está em linha com a rentabilidade das empresas, com a apreciação cambial e com a necessidade das empresas de remeter recursos para cobrir baixas rentabilidades no exterior. O BC também revisou a projeção para as viagens internacionais, que deve apresentar saldo negativo de US$ 4 bilhões, influenciado pela queda do dólar e maior renda dos brasileiros, segundo Lopes. Esse saldo é formado pelo gasto de brasileiros em viagens ao exterior e de estrangeiros no país. A estimativa anterior era de US$ 3,5 bilhões de saldo negativo.No caso das transferências unilaterais, a projeção passou de US$ 4,2 bilhões para US$ 3,8 bilhões de saldo positivo. Segundo Lopes, essa alteração “reflete a piora dos fluxos  provenientes dos Estados Unidos”. Os Estados Unidos respondem por 45% do que vem para o país por meio das transferências unilaterais, seguido pelo Japão, com 25%, e demais países, com 30%.Lopes afirmou que o déficit em transações correntes é coberto pelos investimentos estrangeiros diretos no país. Entretanto, no bimestre e em fevereiro esses investimentos foram inferiores ao déficit em transações correntes e ficaram em US$ 5,704 bilhões e em US$ 890 milhões, respectivamente.Segundo Lopes, o resultado não é preocupante, uma vez que a expectativa é de que, durante o ano, o déficit seja coberto "com tranquilidade". De acordo com Lopes, o investimento estrangeiro direto é pouco influenciado pela crise externa, já que os investidores observam a estabilidade econômica do país. Segundo o relatório divulgado hoje (24), a projeção para investimentos estrangeiros diretos passou de US$ 28 bilhões para US$ 32 bilhões. Dados preliminares do mês de março até hoje mostram que o investimento estrangeiro direto no país está em US$ 2,3 bilhões. O investimento de empresas brasileiras no exterior está em US$ 1,2 bilhão. De acordo com Lopes, a entrada de investimento estrangeiro direto está "dispersa em todos os setores".