Entrevista 4 - Experiências brasileiras podem ajudar no combate ao desemprego

23/03/2008 - 0h20

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Na quarta e últimaparte da entrevista exclusiva à Agência Brasil, odiplomata Édson Monteiro, que no próximo dia 25 assumea Embaixada do Brasil no Timor Leste, fala sobre um dos principaisdesafios do único país asiático que tem oportuguês como língua oficial: o desemprego.ABr - Odesemprego é um problema grave entre os jovens timorenses. Oque pode ser feito?Monteiro - 40%dos jovens entre 18 e 25 anos estão desempregados. Muitosestão pelas cidades sem ter o que fazer, vítimas fáceisde campanhas, e aí começam as brigas que resultam emmais destruição, colocam fogo em casas e prédiospúblicos. É preciso que o país comece a geraroportunidades de emprego para esta gente. Eles têm recursos, opetróleo já está gerando recursos que estãosendo investidos em um fundo enquanto o país não têmcondições econômicas, sociais e atéadministrativas de usá-los. Eles sabem que não sãocapazes, ainda, de gerenciar um grande programa de desenvolvimento. ABr - O Brasilpode ajudar? Monteiro -Experiências como as que o Ministério do DesenvolvimentoAgrário faz no Brasil, de criação decooperativas, de melhoria de qualidade de sementes, de ajuda nacomercialização... tudo isso pode ser feito lácomo cooperação técnica ou como trabalho degoverno. Pequenas indústrias poderiam fazer o aproveitamentodestes produtos agrícolas que eles têm, quem sabe com aajuda do Sebrae [Serviço de Apoio às Micro ePequenas Empresas], por exemplo. O Senai [ServiçoNacional de Aprendizagem Industrial] já está lámas também é preciso criar capacidade empresarial. OBanco Mundial e o Bando da Ásia já propuseram uma sériede atividades emergenciais para criar emprego, como as frentes detrabalho. Não precisamos inventar a pólvora. ABr- Como seriam estas frentes?Monteiro - Hátodo um trabalho de reconstrução do país, dereconstrução de estradas, de limpeza, que pode serfeito com dois, três meses de trabalho intenso. O que se pagara um jovem ou chefe de família nestes três meses podeser suficiente parta mantê-lo o ano inteiro. Com pequenosprojetos deste tipo pode-se criar condições desobrevivência para uma grande quantidade de pessoas. E ogoverno tem recursos. Seria a forma mais rápida de geraremprego enquanto não se criam as condições parainvestimentos, para criação de empresas... as coisasque serão uma solução permanente. Mas isto aindaestá sendo pensado.ABr - Oinvestimento estrangeiro é necessário?Monteiro - Háporto, eletricidade, matéria-prima e pessoas. Por que nãoinvestimento estrangeiro, aproveitando-se que há umainfra-estrutura sendo criada? Os australianos, os chineses, osindonésios, os malásios, os japoneses poderiam fazer. ABr - Nãohá empresas brasileiras no Timor. Por que? Não vale oinvestimento?Monteiro -Precisamos levar empresas brasileiras para lá. É umpaís distante que ainda tem uma atividade econômicamuito pequena. A maior parte das pessoas vive do que produzem, 80%ainda dependem da agricultura de subsistência, portanto nãohá renda., não há um mercado. Quem vai lá?As empresas vizinhas da Indonésia, da China, da Malásia,da Austrália. Eles têm custos menores, fazeminvestimentos menores e podem ser lucrativos. Para as empresasbrasileiras será sempre uma empreitada muito mais onerosa.Acho que é possível, mas é uma outra áreaque até agora não foi trabalhada. A essência doque fazemos lá é cooperação.