Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apóso assassinato da ex-premiê paquistanesa Benazir Bhutto ontem(27), a possibilidade de guerra civil no país pode ter seintensificado. A avaliação é do especialista emRelações Internacionais e consultor do Ministériodas Relações Exteriores, Ricardo Seitenfus.
“Éuma situação extremamente delicada. Estamos assistindo,com esse assassinato, o fim de uma esperança de diálogo. Pode ser o início de uma guerra civil”, afirmou em entrevista à Rádio Nacional.
Seitenfusdestacou que, do ponto de vista estratégico e das relaçõesinternacionais, o mundo pode ter retornado "à estaca zero”,já que os Estados Unidos haviam "apostado suas fichas" no atualpresidente paquistanês, PervezMusharraf.
“Oassassinato de Benazir Bhutto, que seria uma espécie de acertoentre poder civil e militar, faz com que nós retornemos àestaca zero. Novamente, os Estados Unidos estão perante uma situaçãomuito difícil, porque têm que apostar toda a sua estratégiaem um ditador, um presidente pouco popular.”
Seitenfuslembrou que, pela proximidade geográfica com o Afeganistão,considerado eixo do terrorismo, o assassinato de Benazir Bhutto pode trazer consequências maiores para o mundo.
“Semsombra de dúvidas, esse atentado demonstra a dificuldade de umdiálogo em situações excepcionais entre oposiçãoe situação. É uma luta sem quartel. Tanto que,agora, é impossível esse diálogo no Paquistão.”
Seitenfus traça um possível quadropolítico para o Paquistão, diante da proximidade daseleições parlamentares no próximo dia 8.
“Aoposição agora se resumiu a Nawaz Sharif, que,provavelmente, vai recolher os votos da Bhutto e se transforme emlíder da oposição”.
Entretanto,na avaliação de Seitenfus, o que marca o atual momentonão é apenas o assassinato da ex-premiê, masa situação de escalada da violência de rua, daoposição e da repressão no país.
“Esse éum problema sério, porque o Paquistão, instável,detentor da bomba nuclear, com os problemas de luta contra oterrorismo, é um elemento que vem conturbar ainda mais essasituação na região”, explicou o especialista.
Ao tentarvislumbrar um futuro para o país, Seitenfus acredita que, semantidas as eleições, a ditadura de Musharraf deverásair vencedora.
“Musharraftem uma larga experiência e, provavelmente, muitaresponsabilidade no que aconteceu ontem, mesmo que não sepossa ainda imputar isso às forças ligadas aele. Ele tinha não somente o direito, mas a obrigaçãode conceder uma proteção devida à candidata daoposição, o que as forças sob seus comando nãofizeram”, argumentou.