Concorrência de produtos chineses afeta mais de 50% dos exportadores brasileiros, diz CNI

13/03/2007 - 16h22

Marcos Agostinho
Da Agência Brasil
Brasília - A concorrência com os produtos importados da China tem afetado 54% dos exportadores brasileiros. No mercado interno, uma em cada quatro empresas nacionais disputa espaço com os artigos chineses.Por causa disso, 6% das empresas brasileiras deixaram de vender seus produtos para o exterior. No mercado interno, 52% das empresas perderam clientes. Entre os setores mais prejudicados estão o têxtil; vestuário e calçados; e equipamentos hospitalares e de precisão.Os dados são da Sondagem Especial da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), divulgada no último dia 9. Essa foi a primeira vez que a entidade realizou uma pesquisa com foco no impacto dos produtos chineses para as exportações brasileiras.Para o professor de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp) Cláudio Dedeca, a procura por essas mercadorias e o impacto delas no mercado nacional deve-se ao preço mais acessível. Isso atrai principalmente os consumidores de baixa renda, que vêem a possibilidade de consumir pagando pouco.Segundo ele, os produtos que entram no país muitas vezes não seguem os padrões de qualidade estabelecidos pela legislação brasileira, o que pode acarretar problemas para o consumidor, como assistência técnica e reposição de peças, caso o produto apresente defeito no futuro.“Somos muito displicentes quanto ao controle da entrada de produtos importados no país. Deveríamos assumir essa posição para que o consumidor seja protegido contra a má qualidade dessas mercadorias. Isso o país não faz, e permite que haja uma concorrência desleal para as empresas nacionais”, disse, em entrevista ao programa Revista Brasil da Rádio Nacional.Dedeca avalia que o baixo crescimento da economia brasileira também agrava o problema, já que os baixos preço desses artigos funcionam como atrativo para um número cada vez maior de desempregados. Fatos que retiram da indústria brasileira a possibilidade de competir no mercado interno.Para o professor, a impressão que se tinha era que a comercialização desses produtos se dava apenas em barracas de camelôs espalhadas pelas cidades. Ele lembra que isso não ocorre mais, e no mercado formal também é possível encontrar artigos chineses para a venda. “Hoje, esses produtos entram tanto pelo comércio informal quanto pelo estabelecido. Se nós entrarmos em qualquer site de grandes estabelecimentos, encontraremos esses produtos a venda”, acrescentou.Dedeca ressalta que as próprias empresas brasileiras usam matérias-primas importadas para reduzir o custo final de produção. “Eu posso comprar uma roupa confeccionada no Brasil, mas que utiliza tecido chinês. Então, os efeitos da importação não se dão apenas por responsabilidade do segmento informal da economia”.O estudo da CNI foi feito entre 5 de janeiro e 1o de fevereiro de 2007. Foram consultadas 1.581 indústrias, sendo 1.367 de pequeno e médio portes e 214 de grande porte.