Cultura no país deixou de ser "ornamental", diz Juca Ferreira

26/12/2006 - 8h12

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Tíquete Cultura, que pode ser lançado ainda este ano pelo governofederal, é apenas a ponta aparente de um processo de mudanças que mexeucom as estruturas do Ministério da Cultura nos últimos quatro anos, segundo o secretário executivo do MinC, Juca Ferreira. “Osavanços foram enormes. O ministério é hoje completamente diferente do queencontramos", disse Ferreira à Agência Brasil. "Antes era bastante acanhado, não tinha interferência emnenhum aspecto decisivo da cultura brasileira, não tinha critérios,indicadores, não trabalhava com o conceito de política pública, acultura era tratada quase como uma coisa ornamental.”Ferreira cita as áreas que evoluíram mais, na avaliação dele:“Audiovisual e cinema avançaram muito, na regulação, na alocação derecursos e na distribuição dessas verbas entre toda a cadeia produtiva.Criamos áreas de produção novas, como o DocTV, para as televisõespúblicas”.Outro segmento em que o MinC investiu pesado, segundo ele, foi a criação de um sistema de museus, envolvendo osmuseus públicos, privados, municipais, estaduais e federais. “Queremoscriar o Instituto Brasileiro de Museus, para dar maior desenvolvimentoao setor”, adianta.Juca Ferreira diz que outro projeto bemsucedido foi o Cultura Viva, que desenvolve os Pontos de Cultura,fortalecendo iniciativas e grupos culturais criados em regiões carentes do país de formaespontânea, através do financiamento de computadores e equipamentos. “Apopulação faz cultura apesar do Estado, com suas próprias forças. Nósconstatamos que existem em torno de 200 mil grupos culturais emfavelas, em bairros, comunidades rurais, em assentamentos, em tribos deíndios.”Segundo Juca Ferreira, cultura também é um artigo deprimeira necessidade, tanto como a alimentação. “A Carta dos DireitosHumanos das Nações Unidas não se concentra apenas nas necessidades materiais, e osdireitos culturais são fundamentais para a realização da condiçãohumana plena.”Quanto à alocação de verbas para o Ministério daCultura, o secretário executivo é otimista. “Nós saímos de 0,2% dototal do Orçamento e hoje já é 0,6%, que ainda está longe do que prevêas Nações Unidas, em torno de 1%. Mas o ministro Gilberto Gil propõeque nos próximos dois orçamentos haja um aumento gradual, chegando a0,8% em 2007, e 1%, em 2008.”Ele sustenta que investir emcultura é promover a economia como um todo, como ficou demonstrado emuma recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE). Segundo os dados, 7,5% dos empregos formais estão ligadosdiretamente com a atividade cultural, que também responde por 5% dototal do PIB e que representa o quarto gasto familiar em todas asclasses sociais.“A cultura demonstrou ser uma atividadeimportante economicamente, em geração de renda, em ocupação, e isso vemreforçar nossa luta para que o governo inclua nas políticas econômicastambém toda essa atividade cultural”. diz ele.Segundo Juca Ferreira, pelaprimeira vez, a cultura está sendo tratada de forma profissional. “Era uma coisa amadora, diletante, a cereja dobolo, feita sem critérios, sem indicadores, sem estudos, sem a noção deque é um direito de todo cidadão. Estamos vivenciando umaprofissionalização e uma qualificação do Estado na área cultural.”Ele conta que o número de projetos culturais analisados aumentou cerca de dez vezes desdeo início do mandato, o que gera a necessidade de fortalecer o quadrotécnico do ministério para os próximos quatro anos. “Quando nóschegamos aqui, eram analisados 2.200 projetos por ano, agora estábeirando os 20 mil.”