Presidente de cooperativa teme que bom preço do açaí orgânico leve à monocultura

14/12/2006 - 8h40

Thaís Brianezi
Repórter da Agência Brasil
Santarém (PA) - A organização comunitária e a certificação orgânica estão ajudando a melhorar a renda dos produtores de açaí do Baixo Tocantins, no Pará, mas trazem riscos para o meio ambiente. A melhora do preço do produto gera uma tendência ao plantio e à monocultura.A avaliação é do presidente da Cooperativa Agroextrativista Resistência do Tocantins (Cart), Geoval Santos de Carvalho, que participa do 5º Encontro das Iniciativas Promissoras do Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (ProVárzea/Ibama). “As ilhas da região antigamente eram ricas em cacau nativo, o último grande ciclo econômico da região. Mas o preço do cacau caiu e, com a valorização do açaí, muita gente derrubou o cacau para plantar açaizeiro. O cacau cresce bem na sombra, enquanto, no caso do açaí, os produtores costumam derrubar as outras árvores ao redor, para melhorar a produtividade”, explicou Carvalho, em entrevista à Radiobrás. Segundo ele, a cooperativa investe em capacitação e na identificação de novas alternativas de renda para incentivar a diversificação da produção. “Oito jovens fizeram cursos e estão voltando para as comunidades para ensinar aos produtores como trabalhar o açaí em sistemas florestais e quais outros produtos podem ser aproveitados. Temos muitas outras riquezas nativas, como a andiroba e o buriti”, completou o presidente da cooperativa.A Cart foi criada em 1995 e atualmente tem cerca de 350 cooperados. Sua região de atuação é a de Cametá (PA), município que produz anualmente 30 toneladas de açaí. A cooperativa trabalha com 511 famílias, cuja produção anual do fruto amazônico gira em torno de 3,6 mil toneladas. Desde 2003, a Cart vende açaí, in natura, para a empresa norte-americana Sambazon, que o beneficia e exporta para Europa e para os Estados Unidos. A certificação orgânica reconhecida pela empresa foi fornecida pela empresa Goka, também internacional.“Neste ano terminou nosso contrato com a Sambazon. Estamos agora fechando outro com uma empresa de Castanhal [também no Pará: Bela Iaçá], que pagará uma certificadora nacional para avaliar nosso açaí e cacau”, revelou Carvalho. Ele acrescentou ainda que o preço médio da rasa (medida equivalente a 14 quilogramas) de açaí subiu de R$ 3, em 2003, para R$ 7, no ano passado. A Cart é uma das 25 instituições apoiadas pelo ProVárzea/Ibama, a partir do financiamento de projetos que desenvolvam sistemas inovadoras do manejo dos recursos naturais da várzea (terras periodicamente alagadas). Ao todo, esses projetos já atingiram diretamente 115,48 mil pessoas em 38 municípios do Amazonas e do Pará.