Pesquisador defende melhora na qualidade do peixe para consumo

28/10/2006 - 17h59

Roberta Lopes e Juliane Sacerdote*
Da Agência Brasil
Brasília - O Brasil precisa melhorar a qualidade de peixes para o consumo, afirma o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Lauro Mendonça. Para ele, o modo como os peixes são pescados e acondicionados nos barcos é precário.  “Para conservar os peixes dentro dos barcos os pescadores usam uma camada de gelo e outra de peixe e assim vai. O problema é que no final da pescaria, o gelo que estava embaixo já está derretido e o peixe também não está muito bem conservado. Com isso, esse pescado não poderá ser vendido por um alto valor comercial e acaba sendo jogado fora”, explica, em entrevista à Agência Brasil.O pesquisador avalia que esse problema só se resolverá com uma maior conscientização por parte dos pescadores: “É preciso que haja investimentos em novos barcos para evitar a má conservação do peixe. Há barcos com frigoríficos, mas os pescadores não tem condições de bancar os empréstimos para a compra desse tipo de embarcação”.  As espécies de peixes que vivem na região costeira, de acordo com ele, estão ameaçadas pelo crescente desequilíbrio ambiental e pela pesca excessiva. “A poluição nas regiões de criatório de peixes tem prejudicado tanto o nascimento quanto o crescimento das espécies. Depois, existe a captura excessiva, e as espécies não conseguem se reproduzir de forma a dar conta da demanda”, diz Mendonça, que participou do Programa de Avaliação do Potencial Sustentável dos Recursos Vivos na Zona Econômica Exclusiva (Revizee).A elaboração do Revizee – um levantamento sobre os recursos marinhos da costa brasileira por um período de dez anos – envolveu cerca de 300 pesquisadores, ligados a universidades e entidades de pesquisa, de 1994 a 2004. O estudo detalhou a situação das principais espécies exploradas comercialmente e constatou que cerca de 80% delas estão no limite de sua capacidade de recuperação.O pesquisador atribui à pesca de arrasto – forma de pesca em que a rede é rebocada e varre o fundo do mar – grande parcela do desequilíbrio, porque essa técnica retira diversas espécies, não só aqueles que teriam algum valor comercial. “Outros peixes, que não servem para venda, ou por causa do tamanho ou pelo tipo, acabam sendo pescados. O que acontece é que esses peixes são de extrema importância, pois servem de alimento para outros”, aponta. Ele avalia que poucas formas de pesca são adequadas, e que isso acontece pela falta de investimento em pesquisas para se pescar de forma direcionada.Mendonça diz que é possível aumentar a produção de pescados, mas para isso, é necessários restabelecer os estoques de peixes atuais e formalizar melhor as condições para a atividade pesqueira, o que inclui a determinação dos períodos e dos barcos autorizados. “É necessária uma melhor gestão dos recursos vivos, evitando o excesso de capturas e utilizando aparelhos de pesca mais seletivos, que capturam a espécie certa para venda”. Ele diz que até uma profundidade de 2 mil metros existem espécies de valor comercial que podem ser exploradas, conforme destacou o ministro Altemir Gregolin, da Secretaria Especial de Pesca e Aqüicultura, também em entrevista à agência, no dia 18. Mas, alerta, Lauro Mendonça, nada de abundância: “O estoque de profundidade tem uma reposição lenta, com um lento crescimento das espécies”.