Pesquisas usadas em campanhas aproximam política e mercado

27/10/2006 - 14h29

Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Originalmente, a técnica das pesquisas qualitativas era utilizada pelasindústrias, para testar produtos. Uma nova margarina, por exemplo, eraoferecida aos participantes do grupo pesquisado. A reação das pessoas ajudava adeterminar se o produto realmente teria aceitação no mercado ou se seriarejeitado, por algum motivo que não tivesse sido previsto.O cientista político Pedro José Floriano Ribeiro, da Universidade Federal deSão Carlos (UFSCar), escreveu sobre o tema em sua dissertação de mestrado. Ele conta que foi na década de 50, nos Estados Unidos e na Europa,que as pesquisas começaram a ser utilizadas na política. "Só no Brasildemorou mais a chegar, porque, por aqui, tivemos a ditadura militar por duasdécadas", diz ele.Ele lembra que as críticas à introdução dessas técnicas não tardaram.Já nos anos 60, o filósofo alemão Jurgen Habermas alertava sobre a novidade no livroMudança Estrutural da Espera Pública."Democracia de público" é um dos termos que os teóricos passaram a adotar paratentar entender melhor as implicações para a política do advento do marketing,da televisão e outras novas técnicas.Se as técnicas que antes eram usadas no mercado de marketing, quer dizer mercado, em inglês) passam a serusadas na política, então, de certa forma, o eleitor será tratado como umconsumidor, alguém a quem se quer vender alguma coisa. Vem daí a conhecidaanalogia dos candidatos com "sabonetes", por parte dos que consideram nocivo oadvento desse predomínio.O professor SérgioPorto, pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) e chefedo Departamento de Comunicação Social do Instituto deEducação Superior de Brasília (Iesb), éum desses críticos: "Se você está no domíniodo mercado, da mercadoria, passa para o campo das emoções,do que serve para proporcionar prazer. Não são maisidéias. São doces, confeitos que são lançadosaos eleitores".Para Porto, que pesquisa como se dáa construção, ao longo dos anos, dos discursospolíticos, o domínio dos marqueteiros no marketingpolítico favorece a disseminação de mentiras nascampanhas. Ele acredita que, se a comunicação noperíodo eleitoral estivesse mais relacionada aos jornalistas,haveria menos problemas, por causa do compromisso dessesprofissionais com a verdade.As campanhas dos dois candidatos a presidente nesta eleição são comandadas por jornalistas. João Santana chefia a equipe de marketing de Luiz Inácio Lula da Silva (PT/PCdoB/PCdoB), e Luiz Gonzalez, a de Geraldo Alckmin (PSDB/PFL).