Seminário no Rio debate resistência a antibióticos

24/10/2006 - 19h15

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O uso abusivo de antibióticos pela população está tornando cada vez mais difícil o combate às doenças e aumentando os gastos com saúde no país. A afirmação foi feita hoje (24) pela chefe do Departamento de Bacteriologia do Instituto Osvaldo Cruz, Dália Rodrigues, ao participar, no Rio, do 3º Simpósio de Resistência aos Antimicrobianos. Segundo a pesquisadora, o consumo inadequado dos medicamentos utilizados para combater infecções causadas por bactérias tem levado ao fortalecimento desses seres vivos, que estão se tornado resistentes aos antibióticos. Ela destacou que isso tornou-se mais evidente a partir dos anos 90. O simpósio, que tem Dália Rodrigues como uma das coordenadoras, reúne de hoje até sexta-feira (27)  700 pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Entre as conseqüências do crescimento generalizado da resistência das bactérias, ela citou o aumento da incidência das infecções hospitalares e a alta dos custos dos tratamentos de saúde, tanto para o indivíduo quanto para o poder público. “Os gastos com infecções hospitalares são a cada dia maiores e o tempo de hospitalização, muito maior. O tempo que a pessoa fica tomando medicamento também é maior, porque ela toma um determinado antibiótico que não faz efeito, o médico é obrigado a trocá-lo e esse novo (medicamento) que ela vai usar muitas vezes tem um custo muito mais alto”, afirmou.De acordo a pesquisadora, a parcela mais prejudicada da população é a de baixo poder aquisitivo, que fica mais distante do acesso às novas drogas obtidas pela indústria farmacêutica a custos bem mais altos.Além do custo, existe dificuldade para produzir novos medicamentos. Dados da Organização Mundial de Saúde indicam que, a cada ano, em torno de US$ 500 milhões são investidos pela indústria farmacêutica mundial na busca de novas drogas, obtendo como resultado cerca 200 novos antibióticos. Apenas 1% deles, no entanto, pode ser utilizado com segurança em seres humanos. “Por mais que a indústria farmacêutica invista, não consegue produzir novas drogas, ela consegue mudar algumas moléculas. É um investimento muito alto, com pouco retorno”, ressaltou Dália Rodrigues. Em entrevista à Agência Brasil, a pesquisadora explicou que a resistência aos antibióticos é fruto do uso de medicamentos sem respeitar critérios médicos. Uma das formas mais usuais de contribuir para o fortalecimento das bactérias é interromper o tratamento antes do prazo previsto: “Quando você não usa o antibiótico por todo o período, o que acontece? Você mata uma parte das bactérias, outra parte fica viva e se torna resistente a esse antibiótico”.A resistência das bactérias também pode aumentar quando o indivíduo toma remédios sem orientação médica. Com a auto-medicação, o paciente corre risco de ingerir substâncias que nada têm a ver com o verdadeiro agente causador da doença. Aplicando o medicamento sem necessidade, a pessoa acaba fazendo com que as bactérias desenvolvam mecanismos para resistir a ele, explicou Dália Rodrigues. Ela ressaltou que os prejuízos não são causados necessariamente à pessoa que fez o uso inadequado do remédio, mas a toda a sociedade. Segundo ela, as bactérias com resistência aumentada acabam sendo eliminadas no meio ambiente por meio das fezes e lá transferem essa resistência para outros microorganismos, causando um fortalecimento em cadeia que alcança também outras populações de seres vivos. “Quando se fala em meio ambiente, há uma cadeia alimentar que vai desde o solo até o homem, passando pelos vegetais e pelos animais, que são inclusive consumidos pelo homem. Então, toda vez que se utiliza esses tipo de droga, e se joga no meio ambiente, seja nos vegetais, para evitar pragas, ou na cadeia produtiva, como promotor do crescimento, tudo isso vai dar como resultado cada dia mais a resistência (das bactérias) e, de outro lado, por não haver, por parte da indústria farmacêutica, a produção de novas drogas, porque elas são extremamente caras”. A pesquisadora do Instituto Osvaldo Cruz mostrou-se pessimista com as perspectivas para frear o avanço na resistência de microorganismos aos medicamentos existentes. “Na verdade, a resistência bacteriana nada mais é do que sua evolução, que não estamos conseguindo acompanhar. E, se não tentarmos bloquear o processo, não vamos ter nada que nos diga que o futuro é promissor”.  Ela destacou a necessidade de ações educativas e alertou a população para os perigos do uso inadequado de remédios: "Todo e qualquer antibiótico somente deve ser usado sob prescrição médica, nunca por indicação de um parente, de um colega, de um conhecido, ou alguém que está no comércio vendendo”.Para ela, outra medida no sentido de conter o processo de resistência aos antibióticos é a venda controlada desse tipo de medicamento, como é feito atualmente no caso de substâncias de uso psiquiátrico.