Crimes pela posse da terra vão a julgamento

24/10/2006 - 6h17

Patrícia Saraiva Mendes
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Dois crimes envolvendo a disputa pela posse da terra têm julgamentomarcado para hoje (24). No município de Loanda, na região noroeste doParaná, será julgado o acusado do assassinato do trabalhador sem terraSebastião Maia, ocorrido em 1999. Em Cuiabá, após 19 anos de espera,três dos seis acusados do assassinato do líder missionário VicenteCañas, que lutava pela demarcação das terras do povo Enawenê-Nawê, vãoa julgamento. No caso Cañas, o ex-delegado de polícia de Juína- município de Mato Grosso onde ocorreu o crime - Ronaldo AntônioOsmar, José Vicente da Silva e Martinez Abadio da Silva serão julgadospor crime de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e emsituação de emboscada. Em um local onde madeiras e terras eramcobiçadas, Vicente Cañas foi assassinado com perfuração no abdômen,apresentando marcas de espancamento. Seu corpo só foi encontrado 40dias depois. “O julgamento significa um avanço contra aimpunidade, apesar dos 19 anos de espera”, diz o secretário executivodo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Éden Magalhães. Todo ano,tanto o Cimi quanto a Comissão Pastoral da Terra ( CPT) divulgamrelatório de violência contra os povos indígenas e contra os povos docampo. “A cada ano, o número tem sido maior, não tem regredido”, dizMagalhães. A Congregação dos Jesuítas e movimentos pastorais marcaram para as 7h30 uma cerimônia religiosa diante do tribunal. “Demodo geral, a polícia tem sido lenta no sentido de apurar os crimespraticados contra os trabalhadores rurais e comunidades, de forma que avisão que nós temos é de uma ineficiência no aparelho repressivo”,afirma o procurador da República Mário Lúcio Avelar. “Normalmente,nesses crimes, nós temos visto a influência do poder político e dopoder econômico sobre as autoridades policiais encarregadas dainvestigação criminal e temos constatado a morosidade na apuraçãodesses casos”, completa. Os assassinatos do líder VicenteCañas e do trabalhador rural Sebastião Maia não são casos isolados.Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra, de 1985 a 2005 ocorreramno Brasil mais de mil conflitos seguidos de morte pela posse da terra.“O número de denúncias de processos criminais e de condenações éabsolutamente inferior à realidade que o quadro desperta”, diz MárioAvelar. Pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos daPresidência da República, o assessor Ivair Augusto dos Santosacompanhará o julgamento do acusado de assassinar Vicente Cañas.