Nova Câmara será desafio tanto para Lula quanto para Alckmin, diz diretor de ONG

04/10/2006 - 1h46

Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Câmara dos Deputados vai passar pela maior renovação de parlamentares desde 1994. A partir de fevereiro, quando os deputados assumem o cargo, quase metade das 513 cadeiras da Casa será preenchida por candidatos escolhidos nas eleições do último domingo (1º).Para o diretor executivo da Organização Não-Govenamental Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, a nova composição não será satisfatória para qualquer que seja o presidente eleito no segundo turno: Luís Inácio Lula da Silva (PT) ou Geraldo Alckmin (PSDB). “O novo presidente terá que governar com o PMDB, que é essa espécie de peronismo brasileiro: não tem cara, nem lenço, nem documento, não se sabe bem o que é", disse, em entrevista hoje (4) ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional. "E ainda com esses deputados de partidos nanicos de aluguel, que vão ficar soltos no plenário pedindo sabe-se lá o quê em troca dos apoios que darão ao presidente”.O primeiro turno das eleições garantiu ao PMDB a maior bancada de deputados federais: 89 parlamentares. O PT terá a segunda maior bancada, com 83 deputados. Em seguida vem PFL (65), PSDB (65) e PP (42).Entre os eleitos, estão políticos que estiveram envolvidos em escândalos de corrupção. Segundo Abramo, os casos mais graves são os que recentemente tiveram seus nomes envolvidos nesses escândalos.Na avaliação dele, os formadores de opinião são os principais responsáveis pela escolha de políticos citados no esquema de compra superfaturada de ambulâncias, bem como os que supostamente receberam dinheiro do empresário Marcos Valério em troca de apoio no Congresso Nacional. “O efeito mensaleiros merece um pouco mais de reflexão. A imprensa comprou a história da carochinha do caixa eleitoral para justificar o fato de esses indivíduos terem levado propina", disse. "Esse pessoal levou suborno e a imprensa comprou a história de financiamento público como se isso tivesse alguma coisa a ver com o fato de o sujeito levar a grana do valerioduto. A responsabilidade pela reeleição dos mensaleiros cabe à imprensa brasileira”, afirmou.Ele também cita como exemplo a eleição, para o Senado Federal, do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB), que obteve  550 mil votos. Abramo diz que a vitória é conseqüência do atraso econômico e político dessa região do país. A família do ex-presidente tem tradição política no estado de Alagoas, no Nordeste do país. Acusado de corrupção, o então presidente Collor renunciou ao mandado em 1992, antes da conclusão do processo de impeachment que estava em tramitação no Congresso Nacional. Para Abramo, a eleição de Paulo Maluf (PP) para deputado federal por São Paulo também revela uma característica regional. A vitória do político, na avaliação de Abramo, foi resultado dos votos de um grupo de eleitores tradicionais ex-governador de São Paulo, que foi preso em 2005 sob a acusação de participar de esquema de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção e crime contra o sistema financeiro.Ele ponderou que não vê qualquer problema na eleição de políticos por reduto eleitoral. Segundo Abramo, é difícil construir uma eleitoral que satisfaça um modelo ideal de representação política.