Embrapa Solos produz primeiro tomate agroecológico sem resíduo de agrotóxico

04/10/2006 - 15h29

Norma Nery
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O pedido de registro da marca do sistema tecnológico Tomatec e de certificação do primeiro tomate agroecológico produzido no Brasil, sem resíduo de defensivos agrícolas, será encaminhado em breve à Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pela Embrapa Solos/RJ, unidade da empresa que realizou o estudo. O pesquisador que liderou o projeto, José Ronaldo Macedo, disse que o novo produto poderá será oferecido em maior escala aos consumidores fluminenses a partir de 2007, se outros produtores aderirem ao novo sistema no plantio que se inicia, como os três agricultores de São José do Ubá, cidade da região noroeste do estado, que testaram com êxito a nova tecnologia.“O produto tem uma aparência muito boa, brilhosa, e os frutos têm maior resistência. Quanto ao sabor, não existe um trabalho específico, mas uma garantia a gente tem: esses frutos não têm resíduos de agrotóxicos”, afirmou Macedo.O sistema de produção foi concluído  no mês de setembro, após testes de pureza realizados pelo Instituto Nacional de Controle de Saúde (INCQS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em amostras da colheita de São José do Ubá. A análise não identificou nenhum dos 122 princípios ativos de agrotóxicos usados no plantio do tomate, que é uma das culturas mais contaminadas por pesticidas, ao lado da batata, morango e mamão.Os agricultores plantaram 12 mil pés de tomate e conseguiram, em cinco meses, depois uma safra com média de produtividade de 300 caixas para cada mil pés da fruta, nível já considerado escala comercial.  Macedo disse que o novo sistema de produção resultou de estudos iniciados em 1994, na cidade de Paty de Alferes, sobre controle da erosão do solo. O objetivo era fixar o plantio do tomate  numa mesma área e evitar o deslocamento da cultura a cada dois anos, como ocorre atualmente.O  novo método é realizado com base no manejo integrado de pragas e no uso do defensivo mais adequado. Primeiro, é feito um levantamento do nível de dano do solo por pragas e das plantas infectadas. Depois, um agrônomo da Embrapa analisa e receita o tipo e a quantidade de defensivo a ser aplicado no terreno. O plantio direto é feito após essa fase e reúne a irrigação por gotejamento (fertirrigação) com adubo solúvel, o ensacamento do fruto e a condução vertical e especial da lavoura que garantiu menos de 1%  de queda da planta, substituindo o sistema antigo de amarrá-la ao bambu, que não dava sustentabilidade e  causava grande perda da produção. O sistema reduz em 60% o uso de agrotóxico na lavoura e em 40 % o uso de adubos químicos.“A gente consegue evitar a erosão, fixando o produtor, fazendo melhorias no solo, e garante o uso adequado da água nessa cultura, que é uma das que mais consomem. O gotejamentro tem eficácia acima de 95% e toda a água aplicada é utilizada pela planta”, explicou.Na primeira etapa, os agrônomos da Embrapa prestarão assistência técnica aos produtores que adotarem o Tomatec. Ainda neste ano, entretanto, a Embrapa Solos divulgará um manual de produção para estimular os produtores a criar associações ou cooperativas que encaminhem o projeto livremente.Segundo o pesquisador, a certificação do produto vai possibilitar a criação de um selo verde, como o dos orgânicos, que estabelece a rastreabilidade do produto com o código de barras que aponta qual é o produtor, a variedade e o local de plantação. Macedo informou também que um artigo científico sobre o Tomatec será publicado pela Fiocruz.O pesquisador explicou que o novo sistema encarece um pouco o produto porque a escala de produção ainda é pequena e a proposta é a de criar um mercado diferenciado para que o produtor tenha um preço compensatório.“Espero que o consumidor, ao ver esse tomate na loja, saiba que, ao pagar um preço diferenciado, está pagando pela preservação ambiental ,que se reverte num produto de qualidade para ele consumir”, afirmou Macedo.